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    Mais influente galerista do país, Luisa Strina celebra 40 anos de carreira

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    15/12/2014 02h00

    "Dizem por aí que eu sou brava, que tenho todo o poder", diz Luisa Strina. "Mas não tem essa glória. Isso tudo é uma babaquice. Minha vida é uma guerra, uma luta."

    Na biblioteca de seu apartamento em Higienópolis, no centro de São Paulo, a mais poderosa galerista do país tenta desfazer sua fama de durona. Nas paredes, obras de Leonilson, artista que ela lançou no mercado junto de Tunga, Cildo Meireles e Nelson Leirner, falam da decepção com os homens e da solidão.

    Sozinha, Strina, 71, construiu a mais sólida galeria de arte do país, que chega agora aos 40 anos. Em dezembro de 1974, ela abriu as portas da casa que leva seu nome no antigo ateliê do artista Luiz Paulo Baravelli, nos Jardins, zona oeste da cidade. Desde então, a filha de abastados industriais italianos subiu ao topo do mercado do país e está entre os nomes mais influentes do mundo da arte.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Luisa Strina ao lado de uma obra de Marcelo Cidade em sua casa em Higienópolis, no centro de SP
    Luisa Strina ao lado de uma obra de Marcelo Cidade em sua casa em Higienópolis, no centro de SP

    Ela é a brasileira na posição mais alta –65ª– do ranking dos cem mais poderosos da arte lançado todo ano pela revista britânica "ArtReview" e este ano apareceu na "Vanity Fair" retratada por Annie Leibovitz entre as 14 "prima galleristas" do planeta –gente que ela diz hoje serem suas amigas, mas que nos anos 1970 perguntavam se cobras rastejavam pelas ruas paulistanas.

    "Naquela época, nenhuma galeria aqui tinha o nome do galerista", lembra Strina. "Isso foi uma invenção minha, ou melhor, uma cópia das galerias americanas. E eu trabalhava só com artistas contemporâneos quando as outras tinham tudo misturado, modernismo, impressionismo, naïf."

    Um dos primeiros nomes a entrar no time de sua galeria foi Wesley Duke Lee, artista morto aos 78, há quatro anos, que foi casado com Strina. "Eu que aproximei os dois", conta o artista José Resende. "Ela já tinha um bom olho."

    Esse olho clínico de Strina, aliás, atravessou décadas da arte do país e ainda aponta os nomes mais cobiçados pelos colecionadores e aclamados pela crítica, um caso raro de galeria comercial capaz de chancelar a carreira de um artista da mesma forma que uma exposição num museu.

    Escolhas de Strina tendem a virar tendência na cena artística. Mesmo os artistas mais novos de sua galeria, como o argentino Adrián Villar Rojas e Renata Lucas, já transitam entre as maiores exposições do mundo, da Bienal de Veneza à Documenta de Kassel, na Alemanha.

    "Meu modelo é a Marian Goodman, de Nova York", diz Strina. "É uma mulher de 86 anos que acaba de abrir mais uma galeria em Londres com um contrato de aluguel para os próximos 20 anos. Ela tem os melhores artistas do mundo nas mãos dela."

    Nos corredores da Art Basel Miami Beach, a feira mais importante para o mercado latino encerrada há duas semanas no balneário dos Estados Unidos, galeristas mais novos vinham pedir a bênção de "tia Luisa" para mais uma temporada de vendas –em todos, ela dava beijinhos no ar, sem encostar a boca no rosto.

    "Ela é como um cacto cheio de espinhos, mas quando aberto só tem água doce dentro", compara o marchand Paulo Kuczynski. "Ela é ríspida às vezes, os artistas morrem de medo dela, mas é a agressividade necessária para qualquer galerista. Tem gente que fraqueja, não tem a espinha dorsal que ela tem."

    Cildo Meireles, carro-chefe de vendas da galeria e com uma obra em posição de destaque na sala de Strina, conta que quando a conheceu, no fim dos anos 1970, ficou horas esperando para mostrar seus trabalhos, o que nem chegou a acontecer naquele dia.

    "Ela ficou lá fazendo crochê, nem me recebeu", lembra. "Foi catastrófico. Jurei que nunca mais iria me encontrar com uma perua paulistana."

    DIVA PUNK
    Quase sempre de preto e usando uma bengala com cabo prateado desde que operou um dos joelhos, Strina não costuma se levantar da cadeira. Em vernissages na galeria, é vista sempre ditando ordens aos assistentes e não perde tempo em negociações. Suas ligações telefônicas não duram mais de um minuto.

    "É uma pessoa sem subterfúgios, não tem medo de dizer o que pensa", diz Marcia Fortes, da galeria Fortes Vilaça. "Ela é a Vivienne Westwood das artes, com muito estilo e atitude. É nossa diva punk."

    Mas sua atitude hostil gerou desafetos. Nos mais de dez anos em que integrou o comitê de seleção da Art Basel Miami Beach, feira que ajudou a estruturar, tinha fama de poder enaltecer ou destruir a reputação das galerias brasileiras, podendo expulsar algumas delas do evento.

    Uma das casas que caiu fora e só voltou a Miami depois da saída de Strina do comitê é a galeria Raquel Arnaud. Também há 40 anos no mercado, Arnaud perdeu espaço no circuito e ainda hoje é uma das poucas a criticar Strina.

    "Não acho que ela seja superior a qualquer outra", diz Arnaud. "Nunca me preocupei com ela. Sou mais conhecida pela minha coerência. Gosto dela. Quando a gente se encontra, até damos beijinhos."

    Strina deixou o comitê da feira há dois anos. "Não quero que me vejam como ameaça, nem tenham raiva de mim." Sem filhos nem herdeiros diretos, ela diz ter o "corpo fechado" e estar planejando agora o futuro de sua galeria.

    "Sou uma pessoa só, mas dizem que galerista tem de trabalhar até cair. Tem que ter um DNA estranho para fazer o que a gente faz", diz Strina. "Nada me dá mais prazer do que montar uma exposição, entrar na galeria e ver tudo pronto."

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