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    Gabriel García Márquez é novo vizinho de Joyce

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    19/12/2014 02h21

    No catálogo da biblioteca do Harry Ransom Center, na Universidade do Texas (EUA), os pertences de Gabriel García Márquez agora vivem ao lado dos de autores como James Joyce, Ernest Hemingway e Jorge Luis Borges.

    A instituição americana, conhecida por guardar acervos de alguns dos maiores escritores do mundo, anunciou no fim de novembro que comprou parte do arquivo do colombiano, morto em abril aos 87 anos. A universidade não revelou o valor da transação.

    A partir de 2015, quem visitar a biblioteca em Austin, no Texas, terá acesso a preciosidades que pertenceram a García Márquez, como documentos, três computadores, anotações e os manuscritos de "Cem Anos de Solidão" e "O General em Seu Labirinto".

    Guillermo Angulo
    Gabriel García Márquez trabalhando no manuscrito de 'Cem Anos de Solidão
    Gabriel García Márquez trabalhando no manuscrito de 'Cem Anos de Solidão'

    "Também há um epistolário interessante, com cartas para Cortázar, Carlos Fuentes e Salman Rushdie, e fotos", diz Jose Montelongo, responsável pelas aquisições da biblioteca.

    Montelongo conta que se comoveu ao abrir um dos arquivos em particular: um romance inacabado, que García Márquez começou a escrever no final dos anos 1990 e não se sabe quando teria abandonado.

    "Há quase dez versões, com anotações em que se pode ver a luta dele com a estrutura." O bibliotecário afirma que a família do escritor ainda não sabe se ou quando publicará o livro inédito. Ele se aproximou dos García Márquez em julho, durante as negociações que levaram à compra do material.

    Montelongo esteve na casa do escritor na Cidade do México, onde ele morreu. Em sua memória, o escritório onde García Márquez trabalhava ficou marcado como um ambiente organizado, onde se destacava uma pintura do colombiano Alejandro Obregón, de quem Gabo foi amigo.

    Em nota, a família do autor disse que a escolha pelo Harry Ransom Center se baseou na capacidade da instituição de "armazenar arquivos e documentos melhor do que ninguém". A reportagem entrou em contato com a família, que não quis dar entrevista.

    Para Mariana Garcés, ministra da Cultura colombiana, o fato de a biblioteca "deter o legado de grandes autores" pode ter influenciado a decisão.

    "Manifestamos interesse, mas respeitamos absolutamente a vontade da família", afirmou Garcés, em entrevista coletiva em novembro."É claro que gostaríamos de ter ficado com os arquivos."

    García Márquez era de esquerda e muito próximo a Cuba. Por anos, teve negado visto de entrada nos EUA, onde agora parte significativa de seu trabalho deve ficar guardada para a posteridade.

    Para Montelongo, porém, isso não representa uma contradição, já que o filho dele, Rodrigo García, é um cineasta baseado no país, e o escritor manteve boas relações com o ex-presidente Bill Clinton.

    O bibliotecário compara o acervo de ilustres às ideias do argentino Jorge Luis Borges. "Ele [Borges] dizia imaginar o paraíso como uma biblioteca. Nesse raciocínio, aqui seria o paraíso da tradição literária."

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