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    Olavo Bilac e José do Patrocínio são personagens de musical no Rio

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    COLUNISTA DA FOLHA

    09/01/2015 02h10

    Do lado de fora do Sesc Ginástico, o centro do Rio está tomado por obras que prometem revolucionar a cara e a vida da cidade no século 21. Do lado de dentro, também.

    "Bilac Vê Estrelas", transformação do romance homônimo de Ruy Castro em espetáculo musical (com canções de Nei Lopes), se passa em 1903, ano em que o prefeito Pereira Passos iniciou no Rio o chamado "bota-abaixo".

    Foi um período de demolições, remoções, novas construções e aberturas de avenidas. A inspiração era Paris. As mudanças de agora não têm um só modelo, mas são impulsionadas pela Olimpíada de 2016.

    Ricardo Borges/Folhapress
    Musical 'Bilac Vê Estrelas', baseado no livro homônimo, de Ruy Castro
    Musical 'Bilac Vê Estrelas', baseado no livro homônimo, de Ruy Castro

    "[O prefeito] Eduardo Paes pode não ser ainda o Pereira Passos, mas realizou um sonho meu de 20 anos: botou abaixo a Perimetral", diz Ruy Castro, colunista da Folha, referindo-se ao elevado que atravessava as regiões central e portuária.

    O livro, publicado em 2000 pela Companhia das Letras, foi a primeira obra ficcional de Ruy. Mas o jornalista diz que 80% da história é documentário, pois resulta de muita pesquisa sobre o Rio do início do século 20.

    Mesmo personagens inventados, como os vilões Padre Maximiliano (Tadeu Aguiar) e Eduarda Bandeira (Izabella Bicalho), são baseados em figuras reais. Os protagonistas são o poeta e cronista Olavo Bilac (1865-1918), vivido por André Dias, e o jornalista e escritor José do Patrocínio (1853-1905), papel de Sergio Menezes.

    O primeiro era branco e o segundo, negro; Bilac era uma celebridade da época; Patrocínio já não possuía a popularidade dos tempos da campanha abolicionista. Eram amigos e tinham em comum o fascínio pelo futuro, traduzido pelos avanços científicos e urbanísticos.

    "Eles representam um Brasil que tinha consciência do próprio futuro, ainda sem o travo de tantas decepções", afirma Ruy.

    INVENÇÕES

    A adaptação para o teatro coube a Heloisa Seixas (mulher de Ruy) e Julia Romeu, mãe e filha. Para o palco, elas fizeram acréscimos à trama de espionagem que já existe no romance.

    Agora, os irmãos Wright –americanos rivais de Santos Dumont na disputa pela invenção do avião– são citados como potenciais clientes de Maximiliano, caso este consiga roubar o projeto de um dirigível desenvolvido por José do Patrocínio.

    "Acho incrível que um negro, naquela época, tenha sido o primeiro brasileiro a comprar um automóvel. E ele ainda estava construindo um dirigível", exalta João Fonseca, que dirige seu décimo musical, entre eles os sobre Tim Maia e Cazuza e "Era no Tempo do Rei", outro livro de Ruy. "Para mim, o espetáculo é uma homenagem aos poetas, aos malucos, aos inventores."

    "Bilac e Patrocínio são de um tempo em que havia homens acreditando que iam mudar o mundo", diz Julia.

    Não é um musical da Broadway. Logo, não há um dirigível real em cena nem a tradicional Confeitaria Colombo é recriada. Bem ao seu estilo, Fonseca se ampara em alguns elementos, como cadeiras e lâmpadas.

    Destaque mesmo têm as 15 músicas criadas em pouco mais de um mês por Nei Lopes. Célebre autor de sambas –entre eles, "Goiabada Cascão" e "Gostoso Veneno"–, ele compôs maxixes, valsas, lundus, modinhas e outros gêneros. E ainda é um estudioso da história da cidade e de personagens afro-brasileiros como Patrocínio.

    "Patrocínio era um sonhador. Por conta disso se meteu em algumas trapalhadas. Bilac também era, mas, por ser quase branco, conseguiu 'chegar lá'. A peça é uma comédia, com pinceladas de farsa e de burlesco. Juízos de caráter e comportamento ficam à parte. O importante é fazer rir", diz Nei.

    BILAC VÊ ESTRELAS
    QUANDO estreia nesta sex. (9); de qui. a dom., às 19h; sessões extras às 16h em 24 e 31/1; até 31/1
    ONDE Sesc Ginástico, av. Graça Aranha, 187, Rio, tel. (21) 2279-4027
    QUANTO de R$ 5 a R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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