• Ilustrada

    Friday, 19-Apr-2024 18:17:02 -03

    Crítica: Tatiana Salem Levy erra a mão em livro de poucos elementos

    LUÍS AUGUSTO FISCHER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/01/2015 04h00

    Um começo espetacular, num romance fraco, com vários problemas, que termina péssimo. Assim é "Paraíso", de Tatiana Salem Levy.

    Escritora com dois acertos notáveis na narrativa longa ("A Chave de Casa" e "Dois Rios"), ela aqui organiza um enredo de poucos elementos e cenários: Ana, que ouviu um parceiro eventual declarar ter Aids e não ter usado proteção deliberadamente, resolve refugiar-se no sítio de uma amiga para gastar o tempo de espera de um exame e para escrever, seu metiê.

    No sítio, encontrará outro refugiado, Daniel, um estranho jovem, bonito e meio selvagem, que busca o isolamento para reviver de algum modo as condições terríveis de um avô, judeu que na Segunda Guerra viveu um tempo escondido em condições medonhas.

    Divulgação
    A escritora Tatiana Salem Levy
    A escritora Tatiana Salem Levy

    Também no sítio, contracenará com Rosa, caseira, que apanha do marido.

    Outra camada se acrescenta no teor do livro a ser escrito ali: espécie de romance histórico, pretende recuperar a trajetória de maldição dada como real. Cinco gerações atrás, uma escrava amante de seu dono fora condenada à morte cruel e, sacerdotisa, maldissera as mulheres das vindouras gerações. Ana alega que escrever essa história a livrará desse vaticínio.

    O romance erra a mão em quase toda a linha. No plano real do sítio, Ana vive esbaforida, com a narração empurrando goela abaixo do leitor estados excitados de alma —ela detesta, tem medo, vê o fantasma da escrava, fica enlevada de paixão, sente raiva, entra em pânico, odeia, adora, sempre súbita, imotivada e inconsistentemente.

    No plano do relato histórico, a fragilidade começa na estratégia escolhida: a própria escrava conta, em linguagem elevada e com uma consciência anacrônica, não apenas sua história, seu sacrifício, como igualmente as transcorridas no futuro.

    As melhores passagens são memórias de Ana e sua história familiar, que incluem um quase abuso e várias tragédias, estas sim narradas de modo justo e forte.

    Mas elas são apenas paisagem, num conjunto dominado pelos outros dois planos, muito fracos literariamente.

    PARAÍSO
    Autora Tatiana Salem Levy
    Editora Foz
    Quanto R$ 37,90 (176 págs.)
    Avaliação ruim

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024