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    Filha de diretor de 'São Paulo S.A.' fala sobre filme icônico dos anos 1960

    MARINA PERSON
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    25/01/2015 02h00

    Sete de janeiro de 1976. Foi neste dia que meu pai morreu, eu tinha 7 anos. Na verdade, 6, e ele 39, quase 40.

    Fazíamos aniversário bem pertinho, ele no dia 12 de fevereiro e eu no dia 15. Não são muitos os aniversários que passamos juntos, mas essa coincidência sempre me fez gostar de aquarianos, como nós.

    Cresci ouvindo muitas histórias sobre o cara de personalidade extravagante, por vezes introspectivo, por vezes explosivo, por vezes mandão e de uma sinceridade desconcertante. Muitos predicados e casos.

    Divulgação
    Walmor Chagas em cena de 'São Paulo Sociedade Anônima
    Walmor Chagas em cena de 'São Paulo Sociedade Anônima'

    Queria ter convivido mais com ele, mas sou só a herdeira do DNA e de traços parecidos. Também sempre ouvi falar muito de sua grande obra-prima, "São Paulo Sociedade Anônima", assim mesmo, sem abreviação, como ele gostava de falar.

    Foi só na faculdade de cinema que entendi que o que diziam do filme não eram apenas elogios de pessoas carinhosas falando para a filha do cineasta.

    Ensinava-se sobre o filme nas aulas, analisava-se a estrutura não linear, falava-se da linguagem neorrealista, da câmera na rua, da mistura de cenas documentais com ficção.

    Mas tinha algo mais. Tinha algo ali que dizia muito sobre a nossa cidade. Mais do que isso, sobre a nossa condição humana. Carlos, o personagem de Walmor Chagas, encarna os medos e angústias de todos que questionam seu lugar no mundo e na engrenagem de uma sociedade agravada pela força do dinheiro e do desenvolvimento como São Paulo.

    A verdade é que o filme poderia se passar em qualquer lugar. E é isso que faz dele uma obra atemporal e universal.

    Person tinha 26 anos quando o escreveu. O roteiro foi feito durante a estadia dele na Europa, onde estudou no Centro Sperimentale di Cinematografia, em Roma.

    O texto original se chamava "Agonia", título que expressava muito claramente o sentimento que ele tinha em relação ao próprio destino.

    Como me disse Jean-Claude Bernardet, Carlos era o terror de Person. Era o que Person temia para si e a revolta dele diante da possibilidade de se tornar um empresário da indústria automobilística movido por ambições capitalistas.

    O temor de Person não era à toa, isso era o que meus avós esperavam dele. Afinal, se eu tive a oportunidade de crescer com o mundo do cinema e do teatro à minha volta, ele vinha de uma família muito afastada das artes.

    Ser cineasta significou um rompimento com seus ascendentes. Para mim, o cinema representa o exato oposto.

    Minha vontade de fazer cinema passa pelo desejo de me aproximar das minhas origens e de compreender o Person por meio dos filmes que ele deixou. De uma certa maneira, a sua obra me trouxe um pouco do que me foi privado pela história.

    SÃO PAULO SOCIEDADE ANÔNIMA
    DIREÇÃO Luiz Sergio Person
    DISTRIBUIDORA Bretz-Back Five
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    QUANTO R$ 39,90 (em média)

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