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    Rara produção da Guatemala é destaque no Festival de Berlim

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BERLIM

    09/02/2015 02h00

    A primeira participação de um filme latino-americano na competição da Berlinale 2015 se deu como o diabo dos grandes festivais de cinema mais gosta. "Ixcanul", rara produção da Guatemala, se passa em um isolado vilarejo guatemalteco, ao pé de um vulcão, habitado por camponeses ingênuos e onde a palavra "camisinha" ainda não faz parte do vocabulário.

    Apesar disso tudo, "Ixcanul" é um filme digno, visualmente belo, em que o diretor Jayro Bustamante não explora vergonhosamente seus atores (não profissionais de origem indígena).

    A história se concentra em uma jovem de 17 anos, prometida ao filho do patrão, que acaba engravidando de um camponês cujo sonho é imigrar para os EUA. Depois de oferendas ao vulcão e ataques de serpentes, a trama se muda para a cidade grande, quando perde muito de sua força.

    Outro destaque até agora, "Queen of the Desert", de Werner Herzog, representa outro tipo de produção que costuma ganhar o cobiçado holofote da competição dos grandes festivais: filmes de orçamento médio, porém robusto (no caso, US$ 36 milhões), feitos ao largo dos grandes estúdios de Hollywood, mas que precisam de grandes estrelas para se viabilizarem financeiramente.

    Daí, vemos Nicole Kidman como a exploradora Gertrude Bell (1868-1926), contemporânea de T.E. Lawrence (retratado no clássico "Lawrence da Arábia",de David Lean), agora vivido pelo ainda mais improvável (e comprometedor) Robert Pattinson.

    Bell iniciou suas expedições para se curar de uma dor amorosa, tornando-se, mais tarde, espiã do Império Britânico. Como T.E. Lawrence, ela teve um papel decisivo na reorganização geopolítica do Oriente Médio após a ruína do Império Otomano.

    "Queen of the Desert" é um filme desajeitado, o que poderia ser um elogio no caso de Herzog. Mas aqui o estranhamento nasce de algo externo, que passa pelas estratégias do diretor, um tanto forçadas, para incluir no filme grandes doses de autoironia e uma "mensagem" política (basicamente, o papel nada heroico do Ocidente colonialista na formação do Oriente Médio atual).

    Herzog sabe filmar e obtém momentos de puro cinema, como a apresentação da personagem Gertrude. Mas é estranho notar que algo se passou no rosto de Nicole Kidman a ponto de comprometer sua credibilidade como atriz. Não está propriamente mal no papel, há apenas algo na sua face que a torna não crível, principalmente para uma mulher que decidiu passar a vida no deserto.

    É o contrário absoluto de "45", representante britânico da competição, em que Charlotte Rampling e Tom Courtenay, dois atores gigantes, são totalmente responsáveis pela grandeza do filme, um surpreendente conto sobre silêncios que podem envenenar uma relação amorosa.

    Ao lado de "Táxi", de Jafar Panahi, "45" foi o filme com melhor recepção da crítica até o momento.

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