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    Brasileiros selecionados por Marina Abramovic vão interagir com a artista

    NINA RAHE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/02/2015 02h15

    Em janeiro de 2014, o artista baiano Ayrson Heráclito se sentou no colo de Marina Abramovic para tirar uma foto. A sérvia de 68 anos, com 50 dedicados à performance, declarou ali que o acolheria.

    No encontro, classificado pelo baiano como de "uma magia que transcende a lógica", ela quis saber tudo sobre a Bahia, desde os orixás ao azeite de dendê.

    Elementos da cultura afro-brasileira são recorrentes no trabalho de Ayrson, que foi selecionado naquele dia para participar em março de uma mostra de performances no Sesc Pompeia. A exposição é parte de Terra Comunal, maior retrospectiva já dedicada à carreira de Marina na América do Sul.

    Divulgação
    Perfomance O Jardim, de Rubiane Maia
    Perfomance O Jardim, de Rubiane Maia

    Além de Ayrson, a artista escolheu outros brasileiros durante sua passagem por São Paulo: são Maurício Ianês, Marco Paulo Rolla, Rubiane Maia e os integrantes do Grupo EmpreZa. "Minha seleção se baseou nos portfólios, na conversa que tive com eles e também na energia de cada um", explica Marina.

    Ao grupo, soma-se Paula Garcia –a performer paulistana assina também a curadoria da mostra– e o curitibano Maikon K. A entrada de Maikon no time foi atípica: o artista encontrou Marina na casa de um xamã, em Curitiba, que sugeriu à performer assistir ao solo de dança DNA de DAN, protagonizado pelo paranaense.

    "Minha decisão de incluí-lo foi imediata. O trabalho é forte e preciso", diz a artista.

    O espetáculo de 2013, encenado por Maikon dentro de uma bolha de plástico, será apresentado no Sesc com modificações. A iluminação será simplificada e a preparação, na qual reveste o corpo de uma camada de água e gelatina, irá acontecer na presença do público. "Eu trabalho há 15 anos em Curitiba, mas não estou inserido no circuito. Ter apresentado meu trabalho à Marina já foi algo inesperado", conta Maikon.

    Após o primeiro encontro, a pedido da equipe curatorial, os brasileiros enviaram três projetos de longa duração a fim de escolher qual seria apresentado –Marina considera trabalhos mais demorados como uma maior possibilidade de transformar o artista e o espectador.

    Detalhes técnicos e conceituais de cada performance foram tema de extensas trocas de e-mail e conversas por Skype. A ausência de hierarquia em "O Vínculo", de Maurício Ianês, foi uma questão explorada. Na performance, o paulista permanecerá em um espaço aberto às proposições dos visitantes, criando um local de convivência.

    "Tive que tomar cuidado para que a visão da Marina não se sobrepusesse. Geralmente, a presença dela como artista é muito forte nos trabalhos que realiza, o que pode criar uma hierarquia entre ela e o público", diz.

    Os brasileiros serão submetidos ainda a um workshop de preparação. Numa locação próxima à São Paulo, devem passar cinco dias sem comer nem falar.

    LIMITES

    O processo ajudará a atingir o estado de imersão que pedem performances como Corpo Ruindo, em que Paula Garcia passará dias arremessando sucatas –algumas de até 20 kg– em uma parede magnetizada. Para todos os envolvidos, a participação em Terra Comunal é a experiência mais duradoura em performances. "Serão dois meses lidando com os limites", diz Paula.

    TERRA COMUNAL/MARINA ABRAMOVIC + MAI
    QUANDO de 11/3 a 10/5 de ter. a sáb., das 10h às 21h; dom., das 10h às 19h
    ONDE Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre

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