Villa-Lobos (1887-1959) escreveu as nove "Bachianas Brasileiras" entre 1930 e 1945. Elas sucedem os "Choros" e antecedem a fase das últimas sinfonias.
Nelas há um esforço para conquistar - ou inventar - elos improváveis entre Bach (1685-1750) e Brasil, respectivamente o tempo e o espaço, as coordenadas para o artesanato maduro do compositor carioca.
Raramente as "Bachianas" são programadas como ciclo completo. Dirigidas por Roberto Minczuk, foram apresentadas em dois dias na monumental Cidade das Artes, localizada na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, pela Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB).
O concerto de sábado (7) começou com a "Bachianas n.1" para 8 violoncelos. É obra difícil, que exige a preparação minuciosa da música de câmara e, ademais, a homogeneidade perfeita dos naipes orquestrais.
As escalas agudas no final da "Embolada" e da "Fuga" saíram um pouco tímidas, mas a acústica da Grande Sala da Praça das Artes ainda não utiliza todos os recursos previstos no projeto original, o que dissipa, de algum modo, boa parte da projeção das cordas.
Ainda com os cellos ao fundo, seguiu-se a interpretação delicada da soprano Rosana Lamosa para a célebre n.5, antes que a OSB surgisse em sua formação completa para as "Bachianas" n.8 e n.4.
A "Oitava" corre o risco de soar pesada por causa da instrumentação, e a "Quarta", para funcionar bem, depende de uma escolha sutil dos tempos para os quatro movimentos.
Em ambas Minczuk manteve controle total diante das complexas relações entre andamento, equalização, polifonia, dinâmica e corpo sonoro. Foram notáveis, especialmente, a "Tocata" da n.8 e o "Coral" da n.4.
De sábado para domingo (8) a orquestra parece ter evoluído. Foi uma boa "Bachianas n.2" e uma ótima n.3 - cujo caráter enigmático e especulativo foi ressaltado pela marcante interpretação do pianista Jean-Louis Steuerman.
Solada com musicalidade e virtuosismo pelo flautista Tiago Meira e pelo fagotista Felipe Destéfano, a "Bachianas n.6" foi uma elaborada pausa camerística antes das duas obras derradeiras.
Se na fuga em onze tempos da n.9 pode ter faltado presença dos cellos, na fuga da n.7 não faltou nada: a OSB antecipou o futuro, tocou do jeito como pretende ser. No final, todos estavam felizes e emocionados.
Villa-Lobos dividiu ele mesmo a própria obra em categorias idiossincráticas, inserindo as "Bachianas" entre as obras com "influência folclórica transfigurada, permeada com a atmosfera musical de Bach".
Ele nos oferece nove chances para descobrir o Bach que pode haver no Brasil, mas também as possibilidades de levar o Brasil a Bach; concentradas em dois dias, essas chances só aumentam.
OSB - INTEGRAL DAS BACHIANAS BRASILEIRAS
AVALIAÇÃO muito bom
O crítico viajou ao Rio de Janeiro a convite da Fundação OSB