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    Principal criação de Jorge Loredo, Zé Bonitinho é um patrimônio nacional

    CLAUDIO FRAGATA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    26/03/2015 17h14

    O ator Jorge Loredo tinha uma relação de amor e ódio com Zé Bonitinho. O motivo vinha de uma espécie de impasse: o personagem, criado por ele nos anos de 1960, trouxe-lhe consagração nacional e, ao mesmo tempo, sempre o impediu de fazer outros papeis.

    Bem que ele tentou. Inventou tipos como o deputado Conversildo da Silva e o guru Saravabatana, todos engolidos pela força de Zé Bonitinho. Era o que todos queriam dele, público e diretores de TV.

    Observei isso de perto quando escrevi sua biografia, "O Perigote do Brasil", para a Coleção Aplauso, coordenada por Rubens Ewald Filho. Pouca gente sabia quem era o ator Jorge Loredo, mas ninguém desconhecia Zé Bonitinho.

    Este era (e ainda é) adorado. Entretanto, Loredo integrou a companhia do célebre diretor Pachoal Carlos Magno e começou sua carreira fazendo Shakespeare. Mesmo encarnando Zé Bonitinho, era um ator meticuloso. Tinha saudade do tempo em que o humorista discutia o texto com o roteirista, mas eu o vi, em suas derradeiras aparições na TV, ensaiando "cacos" com Sônia Almeida, a bonitona que contracenava com ele em A Praça é Nossa.

    Zé Bonitinho tampouco era a sua criação predileta. Gostava mais do Mendigo Aristocrata, personagem que chegou a ganhar projeção nos tempos de Juscelino Kubitschek, mas que foi obrigado a aposentar durante a ditadura militar devido às farpas dirigidas ao governo. Até o final da vida sonhou com a volta do mendigo à TV.

    Sonhava também fazer teatro de "cara limpa", despido de Zé Bonitinho, para entrar em cena como Jorge Loredo e fazer esquetes humorísticos iguais aos que fazia no início de carreira. Dizia-se um ator capaz de papeis cômicos e dramáticos. Chegou a mostrar esse talento em filmes de Arnaldo Jabor, Rogério Sganzerla, Laís Bodanzky e Selton Mello.

    O Brasil ficou mais sem graça com a morte de Jorge Loredo e eu sinto muito por isso. Mas Zé Bonitinho não morre. Basta digitar seu nome no Google e milhares de páginas se abrem. Virou ícone, lenda, mito, faz parte do patrimônio nacional de personagens – assim como o Amigo da Onça, Macunaíma ou Pedro Malasartes. Meninos do stand-up, prestem atenção: há muito o que se aprender com o legado de Jorge Loredo.

    CLAUDIO FRAGATTA é escritor de livros infanto-juvenis e autor da biografia "Jorge Loredo - O Perigote do Brasil", parte da Coleção Aplauso (Imprensa Oficial).

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