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    Show 'Amazônia BR' mostra Pará com beats digitais e sem estereótipo

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    10/04/2015 02h40

    A Amazônia não é nenhum rótulo de catuaba selvagem: não tente resumi-la a corpos seminus e batidas exóticas.

    Assim Felipe Cordeiro, 31, vê a cena musical paraense. A vontade de marcar posição "bem distante dessas caricaturas" guiou o músico no show "Amazônia BR", que estreia nesta sexta-feira (10), no Sesc Vila Mariana, juntando "beats digitais e percussão".

    Felipe dirige o espetáculo com craques do Estado, que incluirão no repertório canções que marcaram suas carreiras: Sebastião Tapajós e o hino "Aos da Guitarrada", a "americana da América do Sul linda pra chuchu" de Mestre Solano em "Ela É Americana" e Fafá de Belém com "Cá Já", composta para ela por Caetano Veloso em 1976.

    Karime Xavier/Folhapress
    Retrato de Manoel (chapéu) e Felipe Cordeiro
    Retrato de Manoel (chapéu) e Felipe Cordeiro

    O time lembra uma versão "pocket" do Terruá Pará, festival que apresenta diversos gêneros do Pará a São Paulo e que neste ano corre o risco de não acontecer, por problemas de financiamento.

    Num estúdio em Pinheiros (zona oeste paulistana), o grande parceiro de Felipe, seu pai, Manoel Cordeiro, 59, toca o teclado onde também repousa o maço de Marlboro. Mestre da guitarrada, ele fundou nos anos 90 a "banda de fuleiragem" Warilou, que coloriu o Norte com figurinos em néon e hits como "Brilho Sensual".

    Manoel lembra das festas de sua época de menino. Enquanto foguetes voavam a dezenas de quilômetros de Belém, na base espacial da Guiana Francesa, operários traziam discos de rumba, zouk, merengue e boleros.

    Ritmos que ajudaram a esculpir uma nova música brasileira. "Aquilo que os paulistas de 1922 chamaram de antropofagismo", diz Felipe.

    Pai e filho expurgam "a ideia pré-formada do que é o regionalismo". Logo, definir a cena local como "folclórica" seria um selo de preconceito. "Assim como o samba é regional do Rio e a gente não trata assim, o carimbó é um gênero universal", afirma Manoel.

    O cartaz de "Amazônia BR" traz uma Matinta Perera: a lenda nortista da velha que à noite vira pássaro e só para de assobiar quando lhe dão fumo. Para Fafá de Belém, eis um resumo da ópera "caboclo-amazônica". "A gente é esse 'urubu' com violão e cigarro de palha, o olhar politicamente incorreto do autodeboche. Nosso rio é nossa rua."

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