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    Gisele Bündchen diz que sinais físicos a fizeram abandonar as passarelas

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    11/04/2015 02h00

    Quando as luzes do desfile de verão 2016 da Colcci se apagarem na quarta (15), no parque Cândido Portinari, em São Paulo, Gisele Bündchen encerrará uma história de 20 anos e vários quilômetros de passarelas percorridos.

    Tida como a maior modelo de todos os tempos, a gaúcha de 34 anos anunciou no mês passado que essa será sua última apresentação "oficial".

    À Folha, em entrevista feita por telefone e por e-mail, Gisele disse, porém, que não descarta apresentações especiais para projetos nos quais tenha interesse e apontou a família como o principal motivo para sua despedida. Seus familiares e amigos acompanharão a apresentação.

    Angelo Pastorello
    Em 1996, Gisele Bündchen, aos 15 anos, em sessão de fotos próximo ao Mercado Municipal de São Paulo
    Em 1996, Gisele Bündchen, aos 15 anos, em sessão de fotos próximo ao Mercado Municipal de São Paulo

    Mulher que redefiniu o padrão estético nos anos 1990, a modelo é símbolo de uma vida saudável e diz ver com animação o projeto de lei na França que deve obrigar agências a contratarem garotas saudáveis e com IMC (índice de massa corpórea) ideal.

    Leia trechos da entrevista.

    Folha - Você já não desfilava com a constância de anos atrás. Por que parar de vez agora? Planejava essa "aposentadoria" há quanto tempo?

    Gisele Bündchen - Não é uma aposentadoria, pois vou continuar trabalhando, só não mais na passarela. Além disso, não descarto desfilar, porque já estou neste "business" há 20 anos e agora quero criar espaço para focar em outros projetos e também ficar mais com minha família.

    Independentemente do ramo em que atuar no futuro, me vejo trabalhando por toda minha vida. Sempre estou aberta às oportunidades que aparecem, vou deixando a vida fluir. Se for por alguma causa especial, quem sabe adiante ainda venha a desfilar.

    Mas por que deixar a passarela, especificamente?

    Aprendi a sentir meu corpo. Automaticamente meu corpo fala se o que faço vale a pena, e ele pediu para parar. Eu respeito meu corpo, tenho um privilégio de poder parar.

    Ficou cansada?

    Não diria cansaço. Não estava ruim, mas olho para minha carreira e já me sinto tão realizada. É um processo gradual de um fim de um ciclo.

    A passarela foi o início desse ciclo, onde comecei, aos 14. É um final, sim. Não tem nada nesse meio do desfile que vá me acrescentar algo mais.

    Me sinto satisfeita de fechar esse ciclo assim. Não vejo como fazer mais [desfilar] do jeito que estava. Se teu copo está cheio, como você vai enchê-lo ainda mais? Estou esvaziando meu copo para poder encher de outras propostas que tenho para mim.

    Que projetos são esses?

    Tenho muitos projetos e muitos sonhos e acredito que para conseguir realizar qualquer coisa na vida é preciso foco e determinação. Este é um dos motivos pelo quais também estou deixando de desfilar nas semanas de moda, pois quero ter mais tempo para focar em projetos pessoais. Mas sonhos a gente não conta, a gente trabalha para concretizá-los.

    Por que escolheu o Brasil para essa despedida?

    Meus primeiros desfiles como profissional foram no Brasil, no antigo Morumbi Fashion [embrião da São Paulo Fashion Week]. Então, achei bacana fazer meu último desfile no meu país, onde tudo começou. A Colcci, além disso, é uma grande parceira minha de anos, acho que é uma forma de prestigiá-los.

    Qual foi o desfile mais marcante para a Colcci?

    O desfile em que chegava de elevador [em 2007] foi muito marcante, a energia estava muito forte naquele dia. Também quando fiz as fotos da campanha com [o fotógrafo] David Sims em Boston, apenas três semanas após ter o Benjamin [seu primeiro filho, em 2009]. Naquele momento, me sentia completamente outra pessoa, estava vivendo em um ritmo muito diferente. Foi preciso me reencontrar.

    Você terá convidados especiais para esse último desfile?

    Sim, a minha família estará lá e também alguns amigos e fãs. O importante para mim, neste momento, é ter a minha família ao meu lado.

    Qual é a diferença entre a carreira no exterior e aqui, onde sua imagem é trabalhada com marcas mais comerciais?

    Trabalho cada território de maneira diferente, com estratégias diferentes. Claro que hoje com a força da internet tudo acaba se espalhando de forma mais rápida. Mas saber dosar o trabalho mais fashion com o lado mais comercial é algo que faço desde cedo.

    Destes 20 anos de carreira na moda, qual a foi a maior lição que você aprendeu?

    Tive que aprender a lidar com as críticas desde cedo, mas sempre fiz o máximo para focar naquilo que me deixava feliz. À medida que os anos foram passando, aprendi a não levar as coisas para o lado pessoal. Percebi que sempre haverá críticas e julgamentos, mas sempre foquei em dar o meu melhor e com o passar do tempo fiquei mais confiante.

    O que está vendo, lendo e ouvindo atualmente?

    Amo ler, e a música está no meu dia a dia. Gosto de escutar músicas que me inspirem, como as de meditação do [americano] Krishna Das. Também sou fã do Jack Johnson, da Marisa Monte, do Legião Urbana, do Bob Marley.

    Há tempos não consigo ler um livro por inteiro. O último que li foi "Who Am I? Why Am I Here?", da Patricia Diane Cota-Robles. Agora estou aprendendo sobre o desenho humano, é uma técnica incrível para o autoconhecimento.

    Você acha que o padrão de garota saudável do final dos anos 1990 se perpetuará? Na França existe um projeto de lei para exigir a contratação de modelos com IMC saudável.

    Espero que sim. Não tem nada mais importante que a saúde. É muito diferente falar algo para uma menina de 14 anos e para uma de 34, como eu. A cabeça é outra. Quando entendi que precisava respeitar o tempo do meu corpo, foi a maior descoberta.

    Mas acha que a indústria mudará esse padrão excessivamente magro na passarela?

    Acho que tudo pode mudar. A mudança é uma constante necessária. Se as pessoas não estão focadas na saúde, sim, sou a favor de mudar.

    Gente, não tenho mais tempo, tenho de pegar meu filho na escola. Tenha um lindo dia.

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