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    Paulo César Pinheiro ataca em verso, prosa e canção

    ALVARO COSTA E SILVA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/04/2015 02h11

    Se ficar três meses sem fazer letra, bate uma crise de abstinência braba em Paulo César Pinheiro, 65, autor de cerca de 2.000 músicas (mais de 1.300 gravadas).

    "Há momentos em que me assusto porque dá um vazio, um branco. Fico nervoso, sofro fisicamente, quase enlouqueço. Mas, de repente, surge alguma coisa."

    Assim que acaba de falar, um passarinho perdido se choca de leve contra a janela do seu apartamento, que dá para as matas atrás do estádio do Fluminense e do Palácio Laranjeiras, no Rio. Ele completa: "Tá vendo como surge?".

    Rafael Andrade/Folhapress
    O compositor e poeta Paulo César Pinheiro na sede da gravadora Biscoito Fino, no Rio
    O compositor e poeta Paulo César Pinheiro na sede da gravadora Biscoito Fino, no Rio

    Para driblar essa eventual falta de inspiração, Paulinho, como é conhecido desde que aos 14 anos compôs o clássico "Viagem", dedica-se, também, à literatura.
    Acaba de sair "Sonetos Sentimentais pra Violão e Orquestra" (ed. 7Letras), reunião de 200 poemas no gênero, criados nos últimos dez anos. Os temas são os mesmos das canções: o amor, a natureza, a memória, o Brasil, a própria música.

    Inspirados pela inventividade do poeta barroco Gregório de Matos, os sonetos seguem o rigor da forma clássica na métrica e na versificação com dois quartetos e dois tercetos, mas às vezes são subvertidos, com a inesperada quebra de versos.

    "É uma maneira de brincar com a musicalidade que o soneto tem, fazendo rimas internas. Muita gente não gosta porque se sente aprisionada dentro da forma. Ao contrário, me sinto mais liberto."

    Este é o quinto livro de poemas de Paulinho. Antes, publicou "Canto Brasileiro" (1976), "Viola Morena" (1984), "Atabaques, Violas e Bambus" (2000) e "Clave de Sol" (2003). Há pelo menos mais oito deles na gaveta.

    "A poesia já foi considerada o gênero nobre, hoje a considero o gênero pobre. Não sabem editar nem vender poesia. Mas quando alguém faz direito, o Paulo Leminski vende 100 mil exemplares. Vendo mais livros nos meus shows do que nas livrarias."

    Leitor de Jorge Amado, Guimarães Rosa e Adonias Filho ("completamente esquecido, mas é de quem mais gosto"), Paulinho conseguiu em 2009 realizar um antigo sonho: publicar o romance "Pontal do Pilar".

    Quando acordou de madrugada, ainda grogue de sono, em pleno Carnaval, e fez as primeiras duas páginas, levou mais nove dias para o livro ganhar o ponto final. "Foi um surto. Mas consegui o que queria: entrar cada vez mais no coração do Brasil. É minha busca incessante. Tanto em música como em literatura."

    Em 2011 veio o segundo romance. "Matinta, o Bruxo" nasceu do acasalamento de duas canções retrabalhadas como narrativa de suspense: o clássico "Matita-perê", em parceria com Tom Jobim, e "Sagarana", com João de Aquino. É Guimarães Rosa relido por Paulinho.

    Mais um romance está pronto, mas permanece inédito: "Santa Meretriz", uma história acreana. Para o ano que vem está prevista a edição de "Figuraças", contos em que explora sua observação de personagens cariocas.

    Na cabeça, mais dois romance e duas peças de teatro: "Está batendo uma preguicinha de escrever. Porque quando mergulho não consigo largar esse tipo de trabalho mais longo".

    A produção musical vai muito vem, obrigado. A safra do verão foi das mais fecundas: nada mais nada menos que 43 canções.

    "Fiz letra para música do Pixinguinha. E acabo de fazer um choro com o Joaquim Carrilho, que tem 17 anos. Entre um e outro, existe um século de parcerias", brinca.

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