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    Escola do Parque Lage tenta recuperar relevância cultural

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    28/04/2015 02h24

    Surgiram em março, na rua Jardim Botânico, no bairro de mesmo nome na zona sul do Rio, cartazes com os dizeres: "Precisa-se de poetas", "Seja artista por uma noite", "Saco cheio de arte".

    As mensagens, algumas escritas por poetas, são sinais do ressurgimento no cenário cultural carioca da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, que completa 40 anos em 2015 com uma série de exposições.

    A escola foi fundada pelo artista Rubens Gerchman (1942-2008) em 1975 para mudar o ensino das artes no Brasil. Com um modelo aberto de cursos livres e sem qualquer relação com as universidades, a escola vinculada à Secretaria de Cultura de Estado foi um polo de formação da contracultura durante o regime militar. O Parque Lage, onde funciona, era conhecido como o jardim da oposição.

    Ricardo Borges/Folhapress
    Escola de artes Visuais do Parque Laje na cidade do Rio de Janeiro
    Escola de artes Visuais do Parque Laje na cidade do Rio de Janeiro

    No corpo docente havia pessoas de diversas áreas, como a arquiteta Lina Bo Bardi, o cenógrafo Helio Eichbauer e o cineasta Sergio Santeiro.

    Lá se formaram os artistas da chamada "geração 80" – Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Leonilson, entre outros–, termo nascido da exposição "Como Vai Você, Geração 80?" (1984), que tomou o belo casarão da escola e o parque.

    Construído em 1920 como réplica de um palácio romano, o casarão foi presente do empresário Henrique Lage à sua mulher, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni. A famosa piscina e os amplos salões serviram de cenário às filmagens de "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, e ao clipe da música "Beautiful" (2002), do rapper Snoop Dogg.

    Com a saída de Rubens Gerchman, no início de 1979, a escola perdeu muitos professores e, desde os anos 1980, nunca mais retomou a mesma efervescência.

    A partir de 1985, começou a ser gerida por uma Associação de Amigos, que financiava a duras penas as atividades principais da escola com doações privadas.

    Aos poucos, a escola passou ser vista como um espaço de ateliês e oficinas, mais do que de formação artística.

    Há um ano, a Secretaria de Estado de Cultura entregou sua gestão e a da Casa França Brasil à OS (organização social) Oca Lage, presidida pelo artista e galerista Marcio Botner. O conselho contratou como diretora Lisette Lagnado, crítica e curadora da 27ª Bienal de São Paulo (2006).

    "A escola é importantíssima em função de sua história. Agora, temos que torná-la importantíssima em relação ao futuro", diz Paulo Albert W. Vieira, diretor da comissão responsável pela gestão da escola, que soma mais de 2.000 alunos e 70 cursos.

    Um marco desta nova fase será uma série de exposições sob curadoria de cinco jovens. A primeira delas, "Encruzilhada", começa nesta terça (28). "Escolhi jovens justamente para dar um caráter experimental", diz Lagnado.

    As exposições vão misturar obras de artistas consagrados, como Antonio Dias e Cildo Meireles, com pelo menos cinco estudantes da casa.

    Para Bernardo Mosqueira, 26, curador de "Encruzilhada", "a reforma da escola tem um impacto imediato, mas virá mesmo daqui a cinco, sete, dez anos, quando esses moleques começarem e botarem tudo para fora".

    ENCRUZILHADA
    QUANDO de 28/4 a 2/6; das 8h às 17h, diariamente
    ONDE Escola de Artes Visuais do Parque Lage, r. Jardim Botânico, 414; tel. (21) 3257-1800
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