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    CRÍTICA

    Raso, 'Cake' se arrasta com apenas alguns bons recursos

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/04/2015 02h10

    A primeira pergunta é: como a América consegue sobreviver a terapias de "grupo de apoio" como a que abre "Cake - Uma Razão para Viver"?

    Em todo caso, uma das clientes do grupo prefere o suicídio a continuar com as reuniões. Claire (Jennifer Aniston), outra cliente, acaba pulando fora –ou sendo ejetada por colocar questões um tanto inquietantes.

    Claire tem o rosto marcado por cicatrizes, e eis um sinal bem lançado pelo filme: por que essas cicatrizes? Saberemos a razão ao longo do filme, não de imediato –e eis outro ponto a favor: permitir ao espectador que tome contato com a história aos poucos.

    Divulgação
    Jennifer Aniston em cena de "Cake"
    Jennifer Aniston em cena de "Cake"

    Talvez os problemas comecem aí: quando mergulhamos na história notamos que não há tanto assim a saber. Claire sofreu um grave acidente, separou-se do marido, só se relaciona com a empregada mexicana boazinha, vive à custa de remédios, sofre de depressão profunda e com as dores físicas do acidente.

    Entre os méritos do diretor Daniel Barnz acrescente-se a maneira sintética e eficaz como mostra que Claire é uma morta-viva: sempre anda de carro com o banco recostado. Ela olha para cima, nunca para o mundo. Não vê outra paisagem que não copas de árvores. Como em "O Vampiro" de Dreyer. E um diretor que reencontra Dreyer merece atenção.

    Fazer milagres é outro departamento. À parte os achados felizes, o filme se arrasta, marcado apenas por algumas aparições surpreendentes, mas sem desdobramento.

    No mais, à falta de relações sociais, Claire limita-se a conviver com o fantasma da moça que se matou. Na vida real mantém relações com o marido da moça e o filhinho do casal. Estes carregam o mesmo problema de Claire: como sobreviver após perdas terríveis?

    A aproximação entre eles gera um grupo de apoio informal, nem mais nem menos eficaz do que um grupo que tivesse uma terapeuta de ofício: trata-se de levar a vida como é possível, em busca de um sinal (um bolo, por exemplo) que sirva como razão para tocar adiante. É mais ou menos isso. Não muito, mas com certa desenvoltura.

    CAKE - UMA RAZÃO PARA VIVER
    DIREÇÃO: DANIEL BARNZ
    ELENCO: JENNIFER ANISTON, ADRIANA BARRAZA, ANNA KENDRICK
    PRODUÇÃO: EUA, 2014, 14 ANOS
    QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (30)

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