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    'O futuro parece cada vez mais a Idade Média', diz diretor de 'Mad Max'

    RODRIGO SALEM
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES

    13/05/2015 12h42

    Trinta anos depois de Mel Gibson finalizar sua passagem como Max Rockatansky, o ex-policial que sai em busca de vingança pela morte da mulher e do filho, a saga apocalíptica "Mad Max" retorna aos cinemas.

    Mais atual que nunca, "Mad Max: Estrada da Fúria", que estreia nesta quinta-feira (14) no Brasil e no Festival de Cannes, discute fanatismo religioso e escassez d'água.

    "Venho de um país onde não há água, então sei como é enfrentar secas. O filme é um reflexo de problemas atuais, como o futuro parece cada vez mais com a Idade Média", diz o cineasta australiano George Miller, que criou o futuro desértico de Mad Max em que o petróleo era objeto de disputa no original de 1979 e nas duas sequências ("Mad Max 2: A Caçada Continua" e "Além da Cúpula do Trovão").

    Ele agora retorna para o quarto longa da série, substituindo a gasolina pela água e colocando o ator Tom Hardy ("Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge") no lugar de Gibson.

    "Ao encontrar Tom, tive a mesma sensação de quando encontrei Mel. Um carisma especial, ambos são adoráveis, mas perigosos como chimpanzés. São brincalhões, mas podem arrancar seu rosto. Além disso, são dois ótimos atores", diz Miller.

    Hardy, por sua vez, só topou o desafio de substituir Gibson após almoçar com o astro e receber sua benção. "Mel Gibson é Mad Max. Não há discussão ou competição. Mad Max é um ícone muito mais 'cool' que 'Superman'. Eu sabia que as pessoas iam me odiar por assumir esse papel, e eu mesmo tive medo de ser péssimo como Max, mas havia um ponto em comum que me deu confiança no legado: George Miller", conta o ator britânico. "Mad Max é como James Bond", resume o diretor. "Algumas pessoas preferem Sean Connery, outras Roger Moore."

    FUGINDO DA CHUVA

    O mais louvável na superprodução de US$ 150 milhões –que precisou trocar as filmagens na Austrália pelo deserto da Namíbia por causa, ironicamente, das fortes chuvas ("Choveu por 15 dias seguidos. Flores lindas nasceram, mas não têm nada a ver com nosso mundo")– é que Miller manteve sua personalidade.

    Quase não há efeitos especiais, apesar de "Estrada da Fúria" ser duas horas das perseguições de carros e caminhões mais insanas dos últimos dez anos. "Usamos dublês e especialistas que fizeram aberturas de Olimpíadas para as cenas perigosas. A segurança sempre veio em primeiro lugar, porque se algo desse errado, ia dar muito errado", afirma o diretor.

    Mas não deu errado. "Houve um dublê que se acidentou no segundo 'Mad Max' trabalhando conosco. Ele ficou p... da vida porque não conseguiu capotar o carro 12 vezes como nos filmes de James Bond. Foram apenas dez capotadas", diverte-se Hardy, que tem a companhia de Charlize Theron.

    A atriz rouba o filme na pele de Imperator Furiosa, guerreira a serviço de um líder messiânico (Hugh Keays-Byrne), que "rouba" suas esposas procriadoras e sai em busca de um paraíso feminino com ajuda de Max.

    "Quando li o roteiro, esperava que fosse centrado em Max, mas logo estava me perguntando: 'Quem é essa garota?", exalta Charlize. "Ela é defeituosa como qualquer ser humano, homem ou mulher, mas é um alívio fazer um filme de ação no qual a garota não fica atrás do homem arrumando o sutiã."

    No fim, George Miller, em um filme de poucos diálogos, ainda consegue representar a insanidade dos extremistas religiosos atuais, apesar de usar sabiamente termos da mitologia nórdica. "Eu pensei que era um bar na Suécia", brinca Hardy sobre Valhalla, o paraíso prometido pelo líder a seus súditos, um deles vivido por Nicholas Hoult ("X-Men: Primeira Classe"). "Quando George escreveu o roteiro, não havia esse cenário de hoje, então a inspiração foram mais os kamikazes e mártires", explica o ator.

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