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    Artistas recriam pinturas pré-históricas para exposição na França

    ALISSA J. RUBIN
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    23/05/2015 02h00

    Depois do sumiço dos neandertais de todo o continente europeu, os humanos modernos chegaram a esta caverna e começaram a criar as primeiras obras conhecidas da arte pictórica: búfalos aparecendo em meio às pedras, leões procurando seus pares e cavalos de crina escura galopando.

    Vinte anos depois da descoberta dessas pinturas rupestres perto do rio Ardèche, no centro-sul da França, elas permanecem fechadas ao público, por causa da necessidade de preservá-las.

    Mas uma réplica construída nos arredores a um custo de quase US$ 59 milhões foi inaugurada recentemente, permitindo que o público tenha uma ideia da experiência vivida pelos espeleólogos que encontraram as pinturas.

    Robert Pratta/Reuters
    O arqueólogo francês Jean Clottes em visita à caverna de Pont d'Arc, em abril de 2015
    O arqueólogo francês Jean Clottes em visita à caverna de Pont d'Arc, em abril de 2015

    A arte rupestre na caverna Chauvet, criada entre 32 mil e 36 mil anos atrás, é a representação em carne, osso e caráter de um mundo que anteriormente era basicamente conhecido apenas graças a registros fósseis.

    Apesar de os arqueólogos já terem observado o impulso de criar arte em marcas deixadas em rochas e em contas esculpidas há 75 mil anos, a destreza nestas pinturas rupestres é de outra ordem.

    O tema mundo animal é familiar, criando uma notável sensação de conexão com o passado distante. As pinturas estão entre as mais famosas obras de arte pré-históricas do mundo. "A habilidade destes artistas, a pintura, é incrível", disse o arqueólogo francês Jean Clottes.

    "As paredes estão cobertas de entalhes; o bisão aqui parece ter oito pernas -é como se ele estivesse correndo", disse Clottes.

    O primeiro passo para criar a réplica foi erguer andaimes e, em seguida, cobri-los com uma argamassa que simulava a superfície de pedra da caverna original, e fotos das pinturas originais foram então projetadas sobre a superfície recém-criada.

    Artistas liderados por, entre outros, Gilles Tosello, um especialista nessa época pré-histórica, copiaram meticulosamente as pinturas com os mesmos materiais usados pelos artistas originais, como carvão feito de pinheiros silvestres e tinta ocre extraída de minerais.

    As pinturas foram reproduzidas com o mesmo tamanho dos originais, mas a réplica como um todo tem uma área ligeiramente inferior à metade da caverna original, com 8.500 metros quadrados de área.

    Entre mais de mil criaturas observadas nas paredes da caverna de Chauvet, apenas uma parece ser humana: uma mulher com cabeça de bisão, sugerindo para alguns arqueólogos que a caverna era usada para práticas xamânicas. Há também diversas imagens de vulvas, presumivelmente como um tributo ao poder de dar à luz.

    Jean-Marie Chauvet, Eliette Brunel-Deschamps e Christian Hillaire, todos espeleólogos, exploravam as falésias logo acima do rio Ardèche, em 1994, quando encontraram uma fenda que imaginaram que poderia levar a uma câmara subterrânea.

    Ao se dar conta do que havia ao seu redor, Brunel-Deschamps gritou: "Eles estiveram aqui!". Saber quem são "eles" é uma pergunta irresistível para qualquer um que veja esta arte.

    Arqueólogos especulam sobre como e por quê humanos primitivos usavam esta caverna. Geólogos e paleontólogos ajudaram a datar não só as pinturas, mas também outros artefatos encontrados nas câmaras da caverna, incluindo cinzas e restos de madeira das fogueiras que os artistas acendiam para produzir o carvão usado nas paredes.

    Há polêmicas acadêmicas sobre a datação exata da caverna, bem como diferentes hipóteses sobre o propósito das decorações em pedra.

    Naturalmente, a réplica não reproduz o ar de mistério e grandiosidade da caverna original, nem a sensação de um encontro profundo com o passado.

    Mas as pinturas copiadas das cavernas de Chauvet pelos artistas plásticos capturam o espírito dos originais, reanimando os animais em seu ritmo gracioso e poderoso sobre a rocha, numa homenagem ao eterno ímpeto artístico de capturar a vida.

    Tradução de RODRIGO LEITE

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