O sucesso planetário de "Intocáveis" tornou a dupla de diretores franceses Olivier Nakache e Eric Toledano uma aposta certa. A expectativa de repetição de sucesso no filme seguinte era inevitável. "Samba" contorna os efeitos da expectativa com um tratamento que evita a mera repetição da fórmula bem-sucedida.
No papel-título temos o mesmo Omar Sy como representação de uma outra França, uma grande minoria de excluídos, negros e árabes, de origem colonial e que foi buscar refúgio na metrópole.
Divulgação | ||
Omar Sy como Samba Cissé no filme "Samba", de Olivier Nakache e Eric Toledano |
De modo intencional e depurado, "Samba" aborda com franqueza a xenofobia e a intolerância e seus efeitos imprevisíveis tanto na Europa como em toda parte.
Sy interpreta Samba Cissé, um imigrante clandestino senegalês às voltas com as dificuldades de conseguir trabalho regular e conquistar o direito legal de residência.
Quando é preso e está ameaçado de expulsão, Samba conhece Alice (Charlotte Gainsbourg), uma executiva em crise que faz trabalhos voluntários numa associação de apoio a clandestinos.
O trio de astros franceses se completa com Tahar Rahim, outro personagem étnico que se finge de brasileiro para seduzir mulheres.
TRADIÇÃO
Sem deixar de lado as peripécias que funcionavam como o motor do humor em "Intocáveis", "Samba" dosa o cômico e o elemento romântico com o realismo social que é tradição no cinema francês.
De "O Ódio" (1995) a "Garotas" (2014), essa tendência vem servindo para retratar o destino funesto de excluídos e, em particular, de imigrantes jovens e seu não-lugar na França contemporânea. São filmes, portanto, da tradição crítica do cinema francês.
A abordagem de um tema grave tem sido invariavelmente dramática ou em tom de denúncia. A principal vantagem de "Samba" é conseguir inverter a equação.
Mesmo que a caricatura continue a ser o principal recurso e isso provoque incômodo num público exigente, é por meio dela que o filme produz uma energia popular capaz de atrair quem não se interessaria por filmes de temática social.
Seu alvo não se confunde com o do cinema francês sofisticado, mas em geral elitista. O estado das coisas que expõe pode parecer a uns mero verniz engajado. Mas sua evolução evidente consiste em não mascarar as contradições.