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    Filósofo britânico John Gray ataca 'problemas insolúveis' da era moderna

    LUIZ FELIPE PONDÉ
    COLUNISTA DA FOLHA

    06/07/2015 02h15

    O homem moderno não é mais sábio do que o antigo. O contrário é mais provável. Marco Aurélio não era pessimista, apenas não padecia da praga do "mito do progresso". Nesse sentido, todo moderno iluminista é um idiota.

    Enquanto não notarmos que nossa capacidade de produzir conhecimento não vem com a habilidade de aprender com isso, não haverá esperança.

    Essas são ideias do filósofo John Gray, que participa, nesta segunda (6), do Fronteiras do Pensamento, evento do qual a Folha é parceira.

    David Levenson/Getty Images
    O filósofo britânico John Gray retratado em Oxford, no Reino Unido
    O filósofo britânico John Gray retratado em Oxford, no Reino Unido

    "Poucos estão dispostos a admitir que a maioria dos problemas modernos são insolúveis", diz o britânico, acrescentando que só aqueles conscientes de que a modernidade não tem cura podem contemplar alguma redenção.

    Em sua opinião, é provável que o céu e a Terra nos joguem fora como "cachorros de palha", sacrificados em nome de nossa estupidez. "Em geral, partilho da visão de Michel de Montaigne que vê a busca da sabedoria como uma atividade pouco sábia."

    Questionado se ele se considera um pessimista, diz: "Era Homero um pessimista?" Segundo ele, só os que acreditam no progresso podem vê-lo como pessimista.

    Como afirma em seu "The Silence of Animals", para Gray a obsessão humana por sua superioridade entre os seres vivos mostra nossa incapacidade de ver que o silêncio dos animais pode ser uma forma elegante de observação. Eles nos contemplam com sabedoria. Se falassem, diriam: "Esses humanos inquietos passarão!".

    Gray é um filósofo que pensa a partir de "profundidades", sejam elas cósmicas (nos lançando, por exemplo, ao "reino animal" como contraponto ao racionalismo "besta" dos modernos), sejam elas morais, pressentindo um perfume trágico na experiência do animal humano.

    Em sua obra sobre o filósofo britânico Isaiah Berlin, Gray identifica nele a ideia de "escolha radical". Para Gray, este conceito de Berlin é superior à clássica noção de "escolha racional" dos utilitaristas (um fetiche ético moderno).

    Se, para esses, escolhemos as coisas boas em detrimento das ruins (sendo assim, racionais), para Berlin, somos, na realidade, obrigados, nos momentos mais críticos, a escolher entre coisas boas, que são tragicamente excludentes.

    A existência é uma batalha contínua, não o acúmulo de vitórias da "razão" sobre as "trevas". Ou do "bem" sobre "o mal". Talvez, por isso, Gray pense que os filósofos religiosos sempre são mais originais do que os iluministas.

    Aqueles sabem que somos animais do mito, enquanto estes creem cegamente que somos seres da razão. O abismo convoca o humano ao seu abismo se ele desistir de mentir sobre si mesmo.

    JOHN GRAY
    QUANDO nesta seg. (6), às 20h30
    ONDE teatro Cetip, r. Coropés, 88, tel. (11) 4020-2050
    QUANTO ingressos esgotados

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