James Brown era cheio de contradições: vivia reclamando de injustiças sociais contra negros, mas deu inúmeros calotes nos músicos de sua banda; protestava contra o racismo, mas apoiou a candidatura de Nixon, um presidente que pouco fez para a população negra nos EUA.
É uma pena que "Mr. Dynamite: The Rise of James Brown", de Alex Gibney, explore pouco essas contradições de Brown, preferindo concentrar-se na constatação, mais que batida, de que ele foi um dos maiores performers da música pop americana e influenciou muita gente.
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Cena de "Mr. Dynamite - The Rise of James Brown" |
O filme vale por algumas cenas de arquivo espetaculares e por entrevistas reveladoras com integrantes das bandas que acompanharam James Brown. Grandes músicos, como o saxofonista Maceo Parker e o baixista Bootsy Collins, falam da disciplina rígida que Brown impunha a suas bandas e da gênese de suas canções mais famosas.
A seleção de fotos e filmes antigos impressiona. Brown aparece no início dos anos 60, experimentando, no palco, os passos que se tornariam sua marca registrada.
Um episódio explica de onde vieram os gritos e a interpretação melodramática que hoje conhecemos como "marcas" de James Brown: certa vez, Little Richard, com quem Brown dividia um empresário, precisou cancelar 30 shows para gravar um disco. O empresário colocou Brown, de peruca, para se fazer passar por Little Richard e cantar nos shows. Ninguém notou a diferença.
Outra cena memorável mostra James Brown e sua banda num show em Boston, em 1968, logo após o assassinato do líder negro Martin Luther King. Enquanto quase todas as grandes cidades do país ardiam em chamas e sofriam com protestos violentos, Brown pediu união e paz.
O concerto estava sendo transmitido ao vivo em rádio e TV, e não houve saques ou destruição naquela noite em Boston. "Eu costumava engraxar sapatos em frente à sede de uma rádio na Georgia", disse Brown. "Hoje eu sou dono da rádio. Isso é black power!"