"Sou um homem idiossincrático e idiossincrasias não se explicam", disse Rubem Fonseca, 90, em rara aparição pública no país na noite desta quinta-feira (17), na Academia Brasileira de Letras, no Rio. O escritor foi à ABL para receber o Prêmio Machado de Assis, a principal honra da instituição, no valor de R$ 100 mil.
O prêmio é dado a um autor pelo conjunto da obra desde 1941.
O depoimento foi dado enquanto falava sobre nunca ter se candidatado à ABL. Ele completou a resposta parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade ao reagir à mesma pergunta: "É só meu jeito de ser".
Ricardo Borges/Folhapress | ||
O escritor Rubem Fonseca recebe prêmio na Academia Brasileira de Letras, na tarde desta quinta (16). |
Fonseca costuma aceitar convites para eventos literários no exterior, mas recusa os brasileiros. O autor não dá entrevistas sobre sua obra, e na noite de quinta não foi diferente.
Abordado pela Folha, olhou em volta como se buscasse ajuda e foi prontamente socorrido pelo genro, Pedro Corrêa do Lago, que disse, sorridente, que o autor não concede entrevistas.
"Agradeço a presença de vocês", concluiu, sucinto.
Ele foi mais falante durante o discurso que fez ao receber o diploma do prêmio. Em tom prosaico, falou por pouco menos de dez minutos sobre sua história com a literatura.
Contou que é "um LOC": " um leitor obsessivo-compulsivo", desde a infância. Foi rejeitado pelo editor a quem entregou um manuscrito, quando tinha 17 anos. Disse que foi criticado por usar "palavras horrendas".
"Mas eu não me preocupei muito, não. Quando decidi escrever, pensei que, para ser escritor, você só precisa de duas coisas: não se incomodar se não achar editor e não se incomodar se alguém disser que seu livro é uma porcaria. Você é muito bom, só interessa o que você pensa de você. [...] Fiz vários livros, todos com palavras horrendas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras."
Tocou brevemente no assunto da poesia – há anos correm rumores de que lançará um livro só de poemas. "O que eu gosto mesmo é de poesia", afirmou.
Informal, se recusou a subir no púlpito, optando por fazer seu discurso do palco.
Ao final da cerimônia, passou cerca de 20 minutos posando para fotógrafo da ABL e fez selfies. Entre os fãs que tiraram fotos com o escritor estavam imortais da ABL, como Ferreira Gullar, colunista da Folha, e Zuenir Ventura.
OUTROS PREMIADOS
Os outros vencedores dos prêmios da ABL foram Roberto Acizelo de Souza, na categoria ensaio, critica e história literária, pelo livro "Do Mito das Musas a Razão das Letras"; Denise Bottmam, pela tradução de "Aguapés", de Jhumpa Lahiri; Nelson Cruz, na categoria literatura infanto-juvenil, por "O Livro do Acaso"; Ana Miranda, na categoria ficção, por "Musa Praguejadora"; Bolívar Lamounier, na categoria história e ciências sociais, por "Tribunos, Profetas e Sacerdotes"; Mauro Lima e Antônia Pellegrino, na categoria melhor roteiro de cinema, por "Tim Maia".
Neste ano, não houve premiado na categoria poesia.
Os vencedores das medalhas João Ribeiro foram a ensaísta, pesquisadora e escritora Marisa Lajolo e o ocupante da cadeira 31 da Academia Paulista de Educação, o professor Luiz Gonzaga Bertelli.