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    crítica

    Stanislaw Ponte Preta castiga com picardia os poderosos do país

    ALVARO COSTA E SILVA
    COLUNISTA DA FOLHA

    18/07/2015 02h25

    Conhecida como "Suíça Suburbana", a Boca do Mato era a terra da família Ponte Preta –o patriarca Aristarco, a tia Zulmira, o primo Altamirando, Rosamundo.

    Hoje quase ninguém mais lembra o bairro, no sopé do morro dos Pretos Forros, engolido pela especulação imobiliária que rebatizou uma vasta região: tudo agora é o Grande Méier. Mas o mais famoso dos Ponte Preta –Stanislaw– segue vivo no imaginário brasileiro.

    Divulgação
    O jornalista Sérgio Porto, também conhecido como Stanislaw Ponte Preta, carrega livros sobre jazz, uma de sua grandes paixões.
    O jornalista Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, carrega livros sobre jazz, uma de suas paixões.

    E olha que ele nos deixou em 1968, com a morte prematura do seu criador, o jornalista Sérgio Porto, aos 45 anos. O pseudônimo (ou heterônimo) existia, nas páginas de jornais e revistas, desde 1953.

    Quando Stanislaw Ponte Preta começou a castigar com graça e picardia os militares e os funcionários públicos que tomaram a cena com a "Redentora", teve início o Festival de Besteira que Assola o País.

    Era 1966, mas isso não quer dizer que os obtusos de plantão não tenham existido antes nem continuado a existir depois. A atual Câmara dos Deputados está aí para confirmar.

    Recém-reeditado, "Febeapá" reúne mais de 250 casos registrados em três livros publicados entre 1966 e 1968.

    A diversidade de abordagens e sobretudo o estilo de Stanislaw Ponte Preta permitem que o leitor percorra suas páginas dando um sorriso discreto aqui, uma gargalhada estrondosa ali.

    Algumas das gírias e expressões por ele criadas resistem na memória –como "cocoroca" e "teatro rebolado"– ou se tornaram bordões de uso corrente –"mais por fora que umbigo de vedete".

    Nascido como anticlássico, o autor tornou-se clássico. A intenção inicial era brincar com o pedantismo e o preciosismo de certa linguagem ainda em voga nos anos 1960.

    Debochando, desenrolou a língua. Ao lado de Rubem Braga, Millôr Fernandes e Antonio Maria, fez uma revolução na imprensa brasileira, bem antes da levada a cabo pelo "Pasquim", que, em seus melhores momentos de crítica aos costumes, é devedor de Sérgio Porto.

    "Escrevia como um malandro mais íntimo do vernáculo que de uma navalha", define Sérgio Augusto na apresentação do livro.

    Curiosa é uma observação do jornalista e teatrólogo Raimundo Magalhães Júnior: "Conseguia aquilo que Mário de Andrade desejou fazer mas não fez: aproximar-se de uma grande massa de leitores".

    Talvez porque Sérgio Porto, com toda sua carioquice, se sentisse mais perto de outro escritor modernista, também de São Paulo, mas desafeto de Mário: o nome Stanislaw Ponte Preta teve sua primeira inspiração no livro (e no humor) do "Serafim Ponte Grande" (1933), de Oswald de Andrade.

    A lamentar apenas que a nova edição não traga as ilustrações originais de Jaguar, que cabiam no texto à perfeição.

    FEBEAPÁ
    AUTOR: STANISLAW PONTE PRETA
    EDITORA: COMPANHIA DAS LETRAS
    QUANTO: R$ 54,90 (488 PÁGS.)

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