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    crítica

    Compositor talentoso, o carioca Mosquito pode voar alto

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    22/07/2015 02h25

    Para se constatar o talento do carioca Mosquito –nascido Pedro Assad Medeiros Torres há 27 anos– é preciso atravessar uma cortina de clichês da indústria musical brasileira.

    Ele é empresariado por Paula Lavigne, e seu material de divulgação exibe frases elogiosas de Caetano Veloso e Seu Jorge, clientes do mesmo escritório.

    Divulgação
    O cantor e compositor Mosquito.
    O cantor e compositor Mosquito.

    Uma das faixas do CD de estreia é regravação de uma composição de Caetano, "Não Enche".

    O material de divulgação para a imprensa diz que ele encantou Luciano Huck, Ronaldo Fenômeno e Vik Muniz. E, para impulsionar sua vida comercial, foi escolhida a linha "o novo fulano" –no caso, Zeca Pagodinho, com quem se assemelha física e musicalmente.

    Zeca dá o aval participando de "Atalho", escolha significativa por ser do repertório do Fundo de Quintal, grupo que é a base da grande virada do samba na década de 1980.

    Mosquito é mais um filho dessa virada, mostrando-se muito bom no partido alto ("Vou Ver Juliana", "Cadê a Viola, Maria?") e nas crônicas bem-humoradas, pontuadas por gírias e cenas do cotidiano ("O Filho da Mãe", "Papel de Bobão").

    Ótima notícia é que as quatro citadas no parágrafo acima são, com ou sem parceiros, composições de Mosquito. Esta é a vertente principal de seu talento, pois sua identidade como intérprete ainda parece em formação.

    A faixa de abertura é a que está na trilha sonora da novela "Babilônia" (TV Globo). "Ô Sorte" parte do famoso bordão do cantor Wilson das Neves para fazer um animado samba na linha "Deixa a Vida me Levar" –a vida é ruim, mas é boa.

    "Só por Hoje", que Caetano diz ter desejado gravar, tem melodia por demais melosa, mas é engenhosa na letra, enfrentando um "você" que pode ser uma pessoa ou um vício.

    O toque social, comum na produção dos bons sambistas, é muito bem dado em "O Dono da Favela", sobre o jovem que vira traficante. Mas soa piegas e carola em "O Amor Mandou Dizer", canção de Xande de Pilares e Gilson Bernini gravada ao lado do próprio Xande.

    Como também é frequente no samba produzido hoje, Mosquito não resiste ao mais banal mela-cueca.

    É o caso de "O Destino Escolheu" e, em feição menos chinfrim, "Dona do Dia a Dia", criação de Pretinho da Serrinha e Leandro Fab.

    "Saudade da Ilha" é outra composição alheia (de Wagner Mariano e Leonardo Mariano), mas parece não ser, pois exalta com delicadeza a Ilha do Governador, bairro onde Mosquito cresceu.

    Caso concilie o suporte empresarial com a fidelidade ao que gosta de fazer, Mosquito poderá voar alto.

    MOSQUITO
    AUTOR: MOSQUITO
    GRAVADORA: SONY
    QUANTO: R$ 19,90

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