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    Livros analisam trajetória 'entre tapas e beijos' da música sertaneja

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    26/07/2015 02h20

    "Entre Tapas e Beijos", o hit de Leandro & Leonardo, serviria também como um bom título para contar a história da música sertaneja no Brasil.

    As bordoadas voaram em alcunhas como "bregas" e "neojecas". A ideia de que se trata de um gênero inferior espalhou-se entre críticos e artistas da MPB, sobretudo após hits como "Evidências", em que Chitãozinho & Xororó cantam sobre "a loucura de dizer que não te quero".

    Em 1991, Caetano Veloso fala sobre rádios "tocando muito lixão", e dois anos depois Gilberto Gil reclama de "ciclos de baixa qualificação".

    Já os beijos estalaram com o tremendo alcance popular. Uma crescente desde a primeira gravação, "Jorginho do Sertão" (1929), sobre o rapaz que podia escolher entre três filhas solteiras do patrão, chegando a Michel Teló e sua global "Ai, Se Eu te Pego" –que ganhou até coreografia de soldados israelenses e versão romena.

    Dos "caipira piraporas" ao sertanejo universitário, o estilo é tema de dois livros recém-lançados: de um acadêmico, o doutor em história pela UFF (Universidade Federal Fluminense) Gustavo Alonso ("Cowboys do Asfalto"), e de um protagonista dessa saga, Teló, que escreveu "Bem Sertanejo" com o jornalista André Piunti a partir da série homônima do "Fantástico" (Globo).

    Em seu lançamento, Teló traz entrevistas com grandes nomes do gênero, de Milionário & José Rico a Gusttavo Lima. Para o cantor, o sertanejo é um alvo fácil. "As pessoas criticaram porque a letra de 'Ai, Se Eu te Pego' era simples. Mas fazer o simples com categoria não é qualquer um que consegue", afirma à Folha.

    Quem conseguiu se deu bem. "Pense em Mim", de Leandro & Leonardo, foi a música mais cantada no país em 1991. Mas a indústria cultural demorou para pensar neles. De 1987 a 1994, o boom sertanejo, a Globo incluiu apenas 12 dessas canções em trilhas, como "Cabecinha no Ombro" na novela "Pedra sobre Pedra" (1992). No período, Gal Costa sozinha emplacou 11 faixas.

    Os ataques vieram de vários fronts. Em 1952, a dupla Cascatinha e Inhana adaptou a paraguaia "Índia", e puristas caíram em cima pelo "estrangeirização" da música rural. Mais tarde, Gal cantaria também sobre os "cabelos nos ombros caídos, negros como as noites que não têm luar".

    Alonso, que em seu livro analisa a evolução do sertanejo, destaca a permanente má impressão da crítica com o gênero. Hoje, a geração dos 1990 virou tradição. Na berlinda, agora, estão seus sucessores, diz. "Zezé di Camargo já chamou o sertanejo universitário de mentira marqueteira."

    Se antes reinava a "cornologia", a nova geração faz a "poética da farra", colecionando mulheres e Camaros amarelos.

    E parte do Brasil se regozija em continuar alheia a esses ídolos, o que ficou evidente com a morte de Cristiano Araújo, afirma Alonso. "Ao mesmo tempo, ele não conseguiu transformar a música sertaneja em algo diferente, como fez Michel Teló ao torná-la mundialmente conhecida. Hoje, há tantos nomes surgindo que não se sabe quem é quem."

    Bem Sertanejo
    André Piunti e Michel Teló
    livro
    Comprar

    BEM SERTANEJO
    AUTORES Michel Teló e André Piunti
    EDITORA Planeta
    QUANTO R$ 36,90 (256 págs.)

    COWBOYS DO ASFALTO
    AUTOR Gustavo Alonso
    EDITORA Civilização Brasileira
    QUANTO R$ 65 (560 págs.)

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