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    CRÍTICA

    'A Dama Dourada' arruína boa história com sentimentalismos

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/08/2015 02h27

    Há maneiras seguras de arruinar uma boa história. Duas delas são infalíveis: o sentimentalismo e o uso abusivo de "flashbacks". "A Dama Dourada" serve-se dos dois, de tal modo que, partindo de uma história fabulosa, não chega a mais que um filme agradável.

    Aos fatos: em 1998, Maria Altmann inicia uma ação contra o governo austríaco, reivindicando seus direitos sobre cinco quadros de Gustav Klimt que haviam pertencido a sua família e foram sequestrados pelos nazistas.

    Vem a ajudá-la um jovem advogado, neto de Arnold Schönberg, o compositor. O terceiro elemento é um jornalista austríaco muito mais disposto a colaborar com a senhora judia do que com o governo.

    Divulgação
    Cena do filme 'A Dama Dourada'
    Cena do filme 'A Dama Dourada'

    Estamos, aqui, diante da história e da memória. A memória pessoal de uma jovem judia que perde os pais nos campos de concentração e nem mesmo quer botar os pés na Áustria. É compreensível.

    A história é um elemento fundamental disso tudo: trata-se de trazer ao presente os horrores da Europa sob o nazismo e, sobretudo, a tão ignóbil quanto entusiástica acolhida dada a Hitler pelos austríacos.

    Tudo isso compõe um quadro muito forte. Daí por diante começam as dúvidas. Seria Helen Mirren, tão britânica, a atriz certa para o papel?

    Ela é excelente, e desfrutamos de sua interpretação de todo modo. Mas austríaca é que ela não é. Isso passa: o espectador aceitará sua figura forte e também sensível.

    Menos compreensível é a decisão de transformar a épica batalha de uma mulher num drama sentimental, abusando dos "flashbacks".

    Como ficou, temos um filme incerto entre dois eixos: a busca pessoal de Maria Altmann e o Holocausto. Trabalhar sobre esses traços, nos quais o passado irrompe no presente abriria a possibilidade de chegar a um filme invulgar.

    Essa hipótese está lançada no filme, só não está desenvolvida. Com essa forma, "A Dama" pode até ganhar maior apelo comercial, mas perde em estatura. É um longa, porém, sobre seres humanos, artigo um tanto em falta, e que se deixa ver com simpatia. Não é pouco para um filme inglês.

    A DAMA DOURADA (Woman in Gold)
    DIREÇÃO: SIMON CURTIS
    ELENCO: HELEN MIRREN, RYAN REYNOLDS
    PRODUÇÃO: EUA/REINO UNIDO, 2015
    QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (13)
    CLASSIFICAÇÃO: 10 anos

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