"Damas do Samba", de Suzanna Lira, é um documentário de resgate da presença das mulheres na história da música popular. Parte da época da escravidão até chegar aos dias atuais.
Lembra de tia Ciata (1854-1924), a baiana que ajudou a difundir o samba de roda no Rio. Em sua casa, ponto de encontro de músicos, foi criado o clássico "Pelo Telefone".
Depois, salta para dona Zica, mulher de Cartola, e dona Neuma, personalidades fortes na Mangueira. Clara Nunes, Alcione, Leci Brandão e Jovelina Pérola Negra ganham a tela cantando ou contando histórias.
Beth Carvalho homenageia Clementina de Jesus: imita com emoção e carinho os gestos de seu jeito de cantar. Fala do aspecto revolucionário do samba. Com seu ritmo exuberante, ele pode ser triste, fazer uma crítica com humor e denunciar as mazelas da população.
Divulgação | ||
Passista retratada no documentário "Damas do Samba" |
Dona Ivone Lara cantando "Sonho Meu" à capela é outro ponto alto do filme. Trazendo novos talentos da canção, o documentário é centrado nas grandes escolas de samba cariocas.
Aborda o trabalho de carnavalescas, passistas, porta-bandeiras. Destaca suas qualidades como empreendedoras, gerentes determinadas, artistas criativas. São mulheres que conquistaram independência com seu trabalho.
No desenrolar da fita, a narrativa vai se diluindo e perdendo o tônus, cedendo às imagens turísticas de mulatas sambando. Quase crianças são maquiadas de forma pesada e sofrem para colocar poderosas botas de salto altíssimo: esforço para a apresentação na avenida.
A ênfase final nesse lado globeleza do Carnaval incomoda. Faz lembrar do aspecto machista desse universo –de resto, de todo o universo brasileiro. Contrasta com a pegada histórica, voltada mais para a música, que foi o esteio do início da fita.
Divulgação | ||
Cena do documentário "Damas do Samba" |
Sem discutir com mais ênfase o papel da mulher no samba e não se aprofundando na história de muitos personagens, o filme dança de forma acrítica sobre a rotina das escolas cariocas. Resvala para um tom oficialista e caricatural.
"Damas do Samba" faz uma justa homenagem a um conjunto luminoso da música brasileira, mas deixa gosto de superficialidade.