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    Longa 'Evereste' recria tragédia real na montanha mais alta do mundo

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

    24/09/2015 02h00

    O diretor islandês Baltasar Kormákur gosta de dizer que se inspirou em sua infância profunda, repleta de idas à escola em meio a nevascas de cegar as vistas, para compor "Evereste", filme-catástrofe com elenco hollywoodiano que estreia nesta quinta (24).

    "Com um acréscimo de 8.848 metros", brincou, na abarrotada entrevista coletiva que antecedeu a estreia mundial desse blockbuster, na abertura do Festival de Veneza, no último dia 2.

    Notadamente concebido para ser visto em 3D –é cheio de tomadas panorâmicas, cenas de ação e acrobacias cinematográficas–, "Evereste" é inspirado no caso real de um grupo de alpinistas surpreendido por uma violenta tempestade de gelo na montanha mais alta do mundo.

    Everest

    Oito dos alpinistas do grupo morreram na tragédia, ocorrida em 1996, ano retratado no filme como o auge do processo de exploração comercial das escaladas, com uma profusão de grupos de turismo de aventura pagos para levar turistas corajosos montanha acima.

    Jason Clarke ("A Hora Mais Escura") interpreta Rob Hall, líder de um desses grupos e dono de um discurso pronto: "Sou pago para levar meus clientes lá em cima e trazê-los de volta com segurança".

    Isso quer dizer cruzar desfiladeiros de gelo, sobreviver ao frio extremo e ao pouco oxigênio e botar fé na segurança de escadas e cordas frouxas.

    Em seu grupo viajam, entre outros, um texano prepotente (Josh Brolin), um carteiro idealista (John Hawkes) e o jornalista Jon Krakauer (papel de Michael Kelly), autor de "No Ar Rarefeito", livro que inspirou o filme.

    Robin Wright e Keira Knightley interpretam as mulheres de Brolin e Clarke, respectivamente. Jake Gyllenhaal faz Scott Fischer, alpinista concorrente do grupo de Rob.

    Rivalidade acalorada à parte, "a última palavra é da montanha" diz um dos personagens, prenunciando a severidade do que viria.

    "É uma tremenda responsabilidade tentar recriar algo que realmente aconteceu", disse Gyllenhaal em Veneza. "Ao assumir o papel, eu não estava tão atento ao quanto esta história teve impacto nos filhos de Scott, que estavam preocupados com a forma como o pai seria retratado."

    No filme, Fischer é um tanto audaz, um alpinista que beira quase o irresponsável.

    Para atingir mais realismo, Kormákur filmou nas Dolomitas, cadeia de montanhas que separa a Itália da Áustria, e em estúdios na Inglaterra, para onde levou neve importada da Holanda para atirar no rosto dos atores "o máximo que conseguíssemos", disse. "Era a coisa real, a uma temperatura de 60 ºC negativos."

    "Não sabíamos ao que ele estava nos levando", conta Brolin sobre a obsessão do diretor em esquentar as interpretações. "Muitos cineastas dizem que querem fazer a coisa real, mas na hora agá você chega e se depara com trailers quentinhos. Não foi o caso."

    A ensolarada Veneza, contudo, recebeu essa trama sobre provações gélidas com uma acolhida morna por parte da imprensa. Escreveu Peter Bradshaw, do jornal britânico "The Guardian": "No fim, o público sai do filme sentindo que penou para chegar ao cume, e voltou sem ter desfrutado muito da vista".

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