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    CRÍTICA

    'Amy' revela o que há de belo e de falho na existência humana

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    24/09/2015 02h25

    Quando as coisas começaram a dar errado? Foi quando ela se apaixonou por um cara chamado Blake e entrou em uma relação de dependência e destruição?

    Ou foi antes disso: quando os pais se divorciam com ela ainda criança? Ou quando ela desenvolveu bulimia por se achar gorda na adolescência?

    Pode também ter sido mais tarde: quando ela disse não para o rehab? Ou ainda quando ela fez um sucesso para o qual não estava preparada e passou a ser vergonhosamente perseguida por paparazzi?

    Em que momento a vida de Amy deixou de ser promessa para se tornar um fardo? Essa é a questão que martela ao longo do tristíssimo "Amy" –e que o documentário tem a sabedoria de não responder.

    O diretor inglês Asif Kapadia ("Senna") evita impor um olhar pessoal ao seu personagem e deixa as perguntas –e a impossibilidade das respostas– ao espectador.

    Seu método é reunir todo o arquivo e o máximo de vozes possível sobre o tema e editar o material de forma quase sempre cronológica, sacrificando a originalidade em nome da ordem.

    Quando "Amy" fica com cara de telefime (sobretudo no uso de música dramática para acentuar passagens dramáticas), a força do personagem carrega o documentário.

    Amy foi aquilo que o crítico Jean-Claude Bernardet chama de "pessoa-laboratório", um ser que concentra as contradições humanas em níveis radicais para que nós possamos vivê-las de forma razoável.

    Nesse sentido, seu drama é específico (garota judia com talento sobrenatural e pendor para a autodestruição) e universal (revela o que há de belo e falho na existência humana).

    Como Amy, mas em menor grau, todo mundo brilha e se desespera. E ao ver (e rever) uma Amy doente ser perseguida por paparazzi e ridicularizada nós nos tornamos cúmplices de uma sociedade do espetáculo igualmente dodói.

    Amy só tem uma. E somos todos Amy. Em ambos os casos, um espetáculo bonito e devastador. Quando as coisas começaram a dar errado?

    AMY
    DIREÇÃO Asif Capadia
    PRODUÇÃO Reino Unido/EUA, 2015, 14 anos
    QUANDO sábado (26), segunda. (28) e terça (29)
    ONDE rede Cinemark

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