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    Fotos do jornal 'Última Hora' quase viram lixo e ganham exposição em SP

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    29/09/2015 02h35

    Elas quase viraram lixo, mas foram salvas, primeiro por uma operação clandestina e agora por uma digitalização a ser concluída em abril de 2016, mas que já ganhou exposição em São Paulo.

    São 166 mil ampliações fotográficas e 600 mil negativos resgatados da massa falida da "Última Hora", jornal criado em 1951 por Samuel Wainer (1910-1980) que revolucionou o jornalismo da época ao abusar de fotos e apostar nas coberturas esportiva, policial e de música popular.

    Noventa imagens deste acervo foram selecionadas para a mostra "Última Hora - Imagens de um Acervo", no Arquivo Público do Estado, com curadoria do jornalista Vladimir Sacchetta, que descobriu, ao pesquisar o material, a imagem da presidente Dilma Rousseff, aos 22 anos, sendo interrogada numa Auditoria Militar em 1970.

    "Diante da quantidade de imagens maravilhosas e das surpresas que o acervo revela, criei uma narrativa possível a partir de recortes temáticos", explica Sacchetta.

    Nem ele sabia, no entanto, que essas 166 mil ampliações representam só um terço do total de imagens do arquivo da sede do jornal, no Rio.

    Fundado para dar sustentação ao segundo mandato de Getúlio Vargas (1951-1954) e se contrapor ao discurso de seu principal antagonista, o jornalista Carlos Lacerda (1914-1977), membro da UDN, o jornal foi perseguido a partir do golpe militar de 1964.

    Sua sede foi invadida, a redação, destruída, e seu diretor, exilado. Poucos anos depois, o título era vendido e a sede, abandonada, abrigava a massa falida da empresa.

    Quando foi noticiado que o acervo seria vendido como papel velho, Pinky Wainer, filha de Samuel Wainer, e seu marido à época, o produtor de TV Roberto Oliveira, criaram uma operação clandestina para salvá-lo.

    "Alugamos uma jamanta e levamos aqueles armários de metal para um sítio da família", revela Pinky. Lá, o material foi selecionado com a ajuda de estudantes de jornalismo. Um terço foi guardado. Eram fotos de política, cultura, Carnaval e esporte –o restante voltou para a sede do Rio, para não levantar suspeitas.

    As fotos foram adquiridas em 1989 pelo então secretário de Cultura do Estado de São Paulo, Fernando Morais, e enviadas ao Arquivo Público do Estado. Em 2012, com financiamento de R$ 585 mil da Petrobras, passaram por um processo de catalogação, higienização e digitalização, que deve disponibilizar todas as imagens online em 2016.

    "O mais marcante no acervo são as marcas de edição nas fotografias: dobras, realces, iluminação e montagens", explica Jacira Berlink, uma das responsáveis pelo processo (leia mais aqui).

    A Folha é detentora de outro acervo da "Última Hora", com 420 mil imagens em negativo de 1960 a 1969.

    IMAGENS DE UM ACERVO
    QUANDO de seg a sex., das 9h às 17h, até 20/11
    ONDE Arquivo Público do Estado, r. Voluntários da Pátria, 596, Santana, SP, (11) 2089-8150
    QUANTO grátis

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