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    CRÍTICA

    Francês aplica fantasia a episódio do sequestro do caixão de Chaplin

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    01/10/2015 02h24

    A sobrecarga dramática que deu sustentação aos cinco longas do francês Xavier Beauvois não prenunciava a guinada satírica que o diretor adota em "O Preço da Fama".

    Aqui, trata-se de reconstituir o sequestro do caixão de Charles Chaplin, um fato registrado dois meses após a morte do astro, no Natal de 1977, mas que Beauvois não trata como reconstituição histórica fiel e enfadonha.

    De fato, em março de 1978, um polonês e seu colega búlgaro se improvisaram como ladrões de defunto com o objetivo de levantar capital para abrir uma oficina mecânica.

    "O Preço da Fama" reinterpreta esse "fait divers" já nas primeiras notas da música de Michel Legrand, que deslocam a faceta criminal do acontecimento para a fantasia.

    O reencontro de Osman (Roschdy Zem), um imigrante argelino, com Eddy (Benoît Poelvoorde), um trapaceiro belga que acaba de sair da prisão, é acompanhado com desconfiança por Samira (Séli Gmach), filha de Osman.

    Divulgação
    Os atores Benoît Poelvoorde e Roschdy Zem em cena do filme "O preço da fama" Crédito Divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Os atores Benoît Poelvoorde (esq.) e Roschdy Zem em cena do filme "O Preço da Fama"

    Se a menina, que vive com o pai num trailer (como Chaplin e Paulette Godard em "Tempos Modernos"), reage com temor à aproximação de um ex-detento, logo sua curiosidade de criança é atraída pelo temperamento desligado da realidade de Eddy, que o rosto-máscara de Poelvoorde torna irresistível.

    O filme explora as semelhanças entre a situação precária em que vivem Osman e Eddy e o status marginalizado de Carlitos. Se Chaplin era na realidade um milionário que vivia numa mansão, a imagem do personagem que ele eternizou é a do excluído.

    Beauvois, no entanto, evita reiterar esse parentesco mimetizando o estilo visual de Chaplin ou falsificando uma estética passadista. Ele prefere evocá-la por meio dos atores, que se inspiram no espírito chapliniano para nos fazer acreditar que o mundo é um lugar de ordens que precisam ser desfeitas.

    O PREÇO DA FAMA (La Rançon de la Gloire)
    DIREÇÃO Xavier Beauvois
    ELENCO Roschdy Zem, Benoît Poelvoorde, Séli Gmach
    PRODUÇÃO França/Bélgica, 2014, 12 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (1º)

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