Mesmo sendo virgem, Maria soube pelo anjo Gabriel que estava grávida. Daria à luz o Filho de Deus. Contou a novidade a seu companheiro, José, que, de primeira, não embarcou na história. Repudiou Maria.
Depois, o casal se reconciliou. Veio a especulação teológica: após o nascimento de Jesus, Maria teria tido relações sexuais com o marido carpinteiro. E assim tiveram quatro filhos, Tiago, José, Simão e Judas.
A sequência dos acontecimentos acima combina informações citadas na Bíblia a detalhes descritos em textos apócrifos, classificados como falsos pela Igreja Católica.
São fragmentos da narrativa apresentada pelo jornalista Rodrigo Alvarez em "Maria - A Biografia da Mulher que Gerou o Homem Mais Importante da História, Viveu um Inferno, Dividiu os Cristãos, Conquistou Meio Mundo e É Chamada de Mãe de Deus" (ed. Globo Livros, R$ 29,90).
Ricardo Borges - 30.set.2015/Folhapress | ||
O jornalista Rodrigo Alvarez na igreja da ressureição em Ipanema |
Para reconstituir os passos da personagem em 206 páginas, o autor recorre aos evangelhos e outros textos bíblicos, documentos históricos (muitos do acervo do Vaticano), relatos não reconhecidos pela Igreja Católica e até mesmo pesquisas arqueológicas.
O resultado é um mosaico de versões, por vezes contraditórias, sobre a trajetória de Maria.
Sem deixar de destacar as dúvidas existentes em torno de cada situação retratada, Alvarez aborda temas que provocaram discussões teológicas ao longo de séculos como a virgindade ou lugar e data da morte de Maria.
"A decisão foi admitir sempre as fragilidades da história. Deixo claro quando não existem provas a respeito de uma informação", diz o escritor.
A biografia menciona o suposto adultério associado a Maria e citado no Talmude (livro sagrado da religião judaica), que contribuiu para acirrar as desavenças históricas entre cristãos e judeus. O trecho relacionado à traição foi excluído do Talmude ainda no século 17.
"Foi um boato sem fundamento, mas que precisava ser contado neste contexto histórico", pondera Alvarez.
Ele ressalta que alguns detalhes jamais comprovados nas escrituras acabaram incorporados à tradição da religião.
"Os pais de Maria são conhecidos como Ana e Joaquim. São chamados assim há muitos séculos. Só que isso não está escrito em lugar nenhum. Não há nenhuma escritura ou texto sagrado que mencione os nomes Ana e Joaquim", diz o jornalista.
Alvarez trabalha como correspondente da TV Globo em Jerusalém desde 2013 e mora a dois quilômetros da casa considerada pelo Vaticano como o lugar onde Maria nasceu.
O caminho até a biografia passou pelo livro anterior de Alvarez, sobre Nossa Senhora Aparecida, publicado em setembro de 2014, com uma tiragem inicial de 15 mil exemplares.
Um ano depois, "Aparecida" é considerado best-seller: ostenta a marca de 180 mil exemplares vendidos.
Com o respaldo deste resultado, "Maria" chega nesta semana às livrarias com uma tiragem inicial de 100 mil cópias.
Outro número da biografia diz respeito ao papel secundário da mãe de Jesus nas escrituras. "Só existem seis falas atribuídas a Maria em toda a Bíblia", diz o autor.
A chave da história de Rodrigo Alvarez é explicar como, mais de 400 anos após a morte de Jesus, a virgem coadjuvante passou a ser exaltada como a Mãe de Deus.
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AUTOR Rodrigo Alvarez
EDITORA Globo Livros
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LANÇAMENTO terça (6), às 19h, na livraria Argumento, no Leblon, e quarta (7), às 18h30, na livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista)