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    Jovens artistas, como Figueroas, reinventam o gênero lambada

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PÁULO

    25/10/2015 02h00

    Quem acha que a lambada foi enterrada de vez pode mudar de ideia ao bater no portão vermelho de uma casa na zona oeste de São Paulo.

    Subindo uma escada, o visitante entra na residência onde o guitarrista paraense Manoel Cordeiro, 59, e o alagoano Givly Simons, 22, dividem três cômodos e um sonho: alçar o ritmo rebolativo à glória que experimentou na virada dos anos 1980 para os 1990.

    Na época, o gênero embalou a abertura da novela "Rainha da Sucata" (1990), com Sidney Magal; o hit "Chorando se Foi", do Kaoma, colocou a voz da vocalista, Loalwa Braz, entre as 20 mais ouvidas do mundo (segundo o livro dos recordes). E Beto Barbosa, o autoproclamado "rei da lambada", explodiu com a canção "Adocica".

    "Temos a pretensão de chamar isto aqui de 'lambada house'", aposta Cordeiro, um dos mestres do gênero e colaborador, diz, em "mais de mil discos" de lambada. Incluindo os de Barbosa, Alípio Martins e a banda Carrapicho (do "bate forte o tambor, eu quero tic, tic, tic, tic, tac").

    Aprenda a dançar lambada

    Já Givly, que sequer era nascido quando a lambada estourou, criou há pouco mais de um ano a dupla Figueroas, com o tecladista Dinho Zampier. As mil cópias do disco de estreia –"Lambada Quente", lançado em abril pela gravadora underground Laja Records– esgotaram e as visualizações no YouTube já somam 376 mil.

    Ele começou o mês de outubro sendo convidado ao programa matinal "Encontro com Fátima Bernardes" (Globo).

    O veterano e o novato planejam montar um estúdio em casa, onde poderão gravar juntos as melodias que têm surgido na rotina em comum.

    ADOCICA, MEU AMOR

    "Num primeiro momento pode parecer caricato, mas não é", garante Manoel Cordeiro. "O Givly é antenado nas vertentes."

    "A lambada de raiz estava esquecida, distorcida com a estética dos anos 1990", diz o rapazote, que põe nas músicas uma levada roqueira, quase psicodélica.

    Fã dos Beatles, ele se rendeu à lambada há dois anos, quando o gosto pelo gênero, que ouviu durante a infância nas ruas de Maceió, se transformou em força criativa. Nasceu, assim, o Figueroas.

    O projeto adiciona, sobretudo, a leveza de não se levar a sério demais, segundo Léo Chermont, do duo eletrônico Strobo –o grupo paraense, formado em 2011, também finca raízes na lambada em seus remixes.

    "Givly é uma figura ímpar. Tem um tecladista bom para caramba e está tirando uma onda, e essas músicas são para tirar onda. O Figueroas faz a gente curtir", afirma Chermont.

    INTERNET

    Manoel Cordeiro atribui a redescoberta da lambada à internet, onde músicos mais jovens puderam "fuçar" a história do gênero e "reler isso com sotaques atuais". O veterano menciona o filho, Felipe Cordeiro, cujo disco "Kitsch Pop Cult" (2012) "influenciou o Figueroas e uma série de artistas".

    Já Felipe diz se reconhecer em uma juventude que está "interessada na memória afetiva de coisas, em buscar referências para subverter".

    Mas, segundo ele, a atual retomada é anterior ao seu disco: começou em 2002 com o guitarrista Pio Lobato.

    Nessa releitura da lambada, vale a convivência com os criadores do ritmo, cujas guitarras bem marcadas vêm da mistura de sons tropicais (como o merengue) com os tambores do carimbó paraense.

    "Nossos professores, de raiz, ainda estão vivos. Os encontros [com eles] são frutíferos", afirma Chermont.

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