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    Fabrício Carpinejar retorna à poesia após 8 anos e retrata a própria morte

    RODOLFO VIANA
    DE SÃO PAULO

    27/10/2015 17h00

    Fabrício Carpinejar teve de morrer para escrever "Todas as Mulheres", livro de poesia a ser lançado no dia 9 de novembro. A obra —um poema único separado apenas por marcações gráficas— tem como narrador um poeta que, do outro lado da vida, observa o próprio velório.

    O espírito do poeta passa os olhos pelas mulheres presentes na cerimônia derradeira, ele tenta responder (sem sucesso) a uma questão fundamental: "Quem mais me amou?" Percebe, contudo, que a pergunta essencial é "quem eu mais amei?". "A ideia é abordar o narcisismo, o querer ser amado", diz Carpinejar.

    A inversão retórica, para o escritor, faz toda a diferença.

    Rodrigo Rocha
    Fabricio Carpinejar, autor de 'Todas as Mulheres'. Crédito: Rodrigo Rocha ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Fabrício Carpinejar, autor de 'Todas as Mulheres'

    "Todas as Mulheres" encerra um jejum de oito anos sem poesia, desde "Meu Filho, Minha Filha" (2007). Nesse período, Carpinejar lançou coletâneas de crônicas como "Para Onde Vai o Amor", deste ano, e "Canalha!", que arrebatou o prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas em 2009. Enquanto publicava sua prosa, dedicava-se à poesia na miúda: passou todo esse tempo escrevendo a obra que agora se apresenta.

    "Poesia é rigor; é não apenas encontrar a palavra certa, mas o silêncio exato", diz Carpinejar sobre o hiato. "Em poesia não tem como errar —ou melhor, a poesia tem de ser o seu erro preferido."

    DEFUNTO

    A morte do poeta-narrador não foi uma escolha casual —a exemplo e Brás Cubas, cujas memórias haveriam de existir apenas depois do fim, Carpinejar teve de matar a si mesmo para enxergar suas vísceras.

    "Imaginei que só poderia ser realmente cruel comigo mesmo se eu estivesse morto", afirma.

    Carpinejar acredita que a morte —ainda que encenada, emprestada ao narrador— garante o distanciamento necessário para não corromper o objeto observado: neste caso, as entranhas sentimentais. "Querer ter posse das coisas faz com que você contamine as coisas com o próprio desejo."

    O exercício de morrer, segundo o escritor, mudou seu conceito sobre a morte. "O que agora me atormenta é não haver imaginação na morte. Resta apenas a crueza da memória [dos outros]", afirma.

    TODAS AS MULHERES
    AUTOR: Fabrício Carpinejar
    EDITORA: Bertrand Brasil
    QUANTO: R$ 25 (112 págs.)

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