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    Atriz Marília Pêra morre aos 72 anos, no Rio

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    05/12/2015 10h37 - Atualizado às 18h02

    Zanone Fraissat - 08.mar.2013/Folhapress
    Marília Pêra na pré-estreia do musical "Alô Dolly", no qual atuou com Miguel Falabella
    Marília Pêra na pré-estreia do musical "Alô Dolly", no qual atuou com Miguel Falabella

    Morreu na manhã deste sábado (5) a atriz Marília Pêra, 72, em sua casa no Rio de Janeiro. Ela enfrentava um câncer havia dois anos, segundo informou a assessoria de comunicação da TV Globo.

    O velório aconteceu na tarde de sábado no Teatro Leblon, no Rio, no sala que leva seu nome, e o enterro, no mesmo dia, no cemitério São João Batista, em Botafogo. Marília passava por tratamento de saúde e estava afastada dos palcos havia cerca de um ano.

    Atriz começou aos 4 anos e fez mais de 50 peças
    Marília Pêra foi a mais completa atriz brasileira

    Ela começou a atuar aos quatro anos e fez mais de 50 peças. "Vivi de arte, vivi de amor/ Nunca fiz mal a nenhuma criatura viva." Os versos são da ópera "Tosca" e foram lembrados por Marília ao escolher o título de sua autobiografia, "Vissi D'Arte" (Escrituras, 1999).

    Nela, além da história pessoal, a atriz contou a da interpretação no Brasil, por meio das famílias teatrais de seu pai, Manuel Pêra, português de atuação descrita como mais clássica, e de sua mãe, Dinorah Marzullo, que começou como corista no teatro de revista.

    Cômica e musical, Dinorah era também "louca" como Marília, na descrição do dramaturgo Flavio de Souza, que coescreveu "Vissi D'Arte". A atriz cresceu nas coxias e carregou por quase sete décadas as qualidades herdadas.

    Nas palavras de Marília, em "Cartas a uma Jovem Atriz" (Campus-Elsevier, 2008): "Essa diferença entre meu pai e minha mãe -ele, sério, meio mal-humorado, e ela, brejeira, jovem, comunicativa- tinha alguma semelhança, em meu universo emocional, com as máscaras da tragédia e da comédia".

    MUSICAIS

    Marília recebeu prêmios de melhor atriz em São Paulo e até em Nova York, mas antes também foi corista na praça Tiradentes, no Rio, e até no circo Tihany.

    Seus grandes mestres haviam sido o pai, a francesa Henriette Morineau, na companhia de quem fez a estreia, ainda criança, em "Medeia", de Eurípides, e a brasileira Dulcina de Moraes.

    Mas a comparação mais direta era sempre com Cacilda Becker, que morreu em 1969, ano em que Marília acumulou prêmios de melhor atriz pela Mariazinha de "Fala Baixo Senão Eu Grito". Esta e Dona Margarida, de "Apareceu a Margarida", de 1973, firmaram a herdeira direta.

    Apesar das grandes atuações no teatro dito sério ou sem música, tanto em comédia como drama, foi no teatro musical que Marília deixou a maior marca. Começando por um acontecimento histórico, em 1968, quando grupos de extrema direita atacaram os atores de "Roda Viva".

    Ela, que pouco falava do episódio, escreveu em seu livro: "Entraram quebrando os espelhos, arrancaram minha roupa, deram socos. Saí correndo, me desviando de socos. No corredor havia mais rapazes, e enquanto fugia eu sentia cassetetes nas costas".

    Já havia atuado antes em "Minha Querida Lady", adaptação da Broadway, ao lado de Bibi Ferreira, e em "A Ópera dos Três Vinténs", de Brecht, e atuaria depois em vários outros musicais célebres, como "Pippin" e, mais recentemente, "Alô, Dolly!", ao lado de Miguel Falabella.

    Neste último, nas temporadas de 2012 e 2013, sua interpretação reafirmou a divisão precisa entre comédia e drama, entre ironia e sobretudo fragilidade, características sua e da personagem. Ela fazia acreditar que, como Dolly, sabia o que é fome e pobreza.

    Em 1996, ensinava exuberantemente não só canto, mas interpretação em "Master Class", abordando "arte" e "verdade".

    ENSINAMENTOS

    Um dos ensinamentos que deixou foi o de "Cartas a uma Jovem Atriz": "Desde que tive alguma consciência das coisas, acreditei que uma atriz verdadeira pudesse dar conta de todos os tipos de personagens, do trágico ao cômico, do musical à chanchada".

    Paralelamente ao teatro, Marília manteve carreira tanto no cinema como na televisão, na qual já era protagonista na Globo no início dos anos 1960 e estava no auge das telenovelas no país com "Beto Rockfeller", em 1968, na Tupi.

    Voltou para não mais deixar a Globo, até os seriados cômicos recentes, com Falabella (caso do humorístico "Pé na Cova"), apesar dos conflitos, pouco aprofundados em entrevistas e livros, que acumulou com José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que foi um dos principais executivos da emissora.

    "Nós tínhamos uma relação quase amorosa. Ter o prazer de estar com ela no palco foi uma das maiores honras da minha vida", afirmou Falabella durante o velório da atriz.

    Ela dizia que "o teatro é como se fosse a minha casa" e tratava de levar para os outros ambientes o que havia conhecido por lá. Foi o caso de um de seus personagens mais populares, Rafaela Alvaray, da novela "Brega & Chique", de Cassiano Gabus Mendes, que foi ao ar em 1987, todo baseado no teatro.

    Com sua voz, ela ainda está em cartaz nos cinemas: narrou o documentário "Chico - Artista Brasileiro", do diretor Miguel Faria Jr.

    Marília deixa três filhos: Ricardo Graça Mello, fruto do casamento com o ator e musicista Paulo Graça Mello (com quem a atriz a se casou em 1959, quando tinha 16 anos), Esperança Motta e Nina Morena, filhas do jornalista e compositor Nelson Motta, companheiro de Marília por 15 anos. Desde 1998, ela mantinha um relacionamento com o economista Bruno Faria.

    Colaborou o RIO

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