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    Fotógrafo de guerra expõe em São Paulo a tragédia humanitária da Síria

    BEATRIZ MONTESANTI
    DE SÃO PAULO

    02/12/2015 12h25

    Do último front de batalha da milícia curda YPG, a leste da cidade síria Ayn-Issa, a 50 km de Al Raqqah, Gabriel Chaim responde a mensagens de Whatsapp com a ajuda de um modem via satélite. "Hoje foi a pior tentativa de invasão que já cobri", escreve.

    Um dos poucos fotógrafos de guerra a acompanhar atualmente o conflito que se alarga na Síria, ele não conseguiu embarcar para sua primeira exposição no Brasil, devido ao fechamento dos aeroportos após os recentes ataques russos à região. Seguiu então com seu trabalho.

    "Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado" inaugura nesta quarta-feira (3) na Zipper Galeria, em São Paulo, e é a primeira ação cultural da ONG Human Rights Watch no Brasil (HRW).

    A mostra traz nove imagens em grande dimensão feitas pelo fotógrafo paulistano nos últimos meses em meio a guerra que já matou mais de 200 mil pessoas e provocou uma crise de refugiados.

    Entre as imagens de cores saturadas, há militantes empunhando armas, mulheres chorando a perda de familiares e amigos, e crianças brincando em meio a escombros de uma cidade inteiramente destruída.

    "Queremos promover um sentido humano de uma situação muito complicada", diz Iain Levine, vice-presidente da HRW, que veio ao Brasil para a abertura da mostra. "[No conflito] você tem o governo, o Estado Islâmico, vários países que estão bombeando o EI, as negociações para a paz são muito difíceis. A imagem humaniza e se você quiser motivar as pessoas a sentirem uma certa solidariedade, ela é muito importante."

    A proposta é reforçada com as proporções quase humanas com que as fotografias estão expostas.

    Se faz arte ou jornalismo, Chaim é enfático: "Meu trabalho é documental".

    "É a realidade de pessoas que vivem por de trás da guerra. Não tenho interesse somente em mostrar a bala, o fogo...e sim, a esperança de quem sobrevive. As histórias vem primeiro, depois as fotos."

    Na segunda-feira (1º), quando o fotógrafo trocou mensagens com a Folha, o front havia sido atacado pelo Estado Islâmico às 4h do horário local, com RPG e morteiros, diz. "Foram ataques simultâneos com artilharia pesada".

    Fotojornalista independente —ele colabora para veículos como "The Guardian", CNN e Globonews—, se protege apenas com um colete e um capacete em campo.

    "Não surge muito efeito no caso de tiros. São mais para estilhaços de bombas." Até hoje não se feriu, a não ser por tiros de borracha, uma vez no Egito.

    REFUGIADOS

    Para o curador Marcello Dantas, a crise humanitária adquiriu outra dimensão após os ataques terroristas em Paris, no dia 13 de novembro.

    "Pensamos essa mostra em agosto, antes dos atentados, mas é interessante perceber como muda o contexto quando você passa a entender essa violência que é cotidiana lá, e tem sido assim nos últimos anos todos. Quando ela chega perto de você, as pessoas redimensionam isso.", diz o curador.

    Da mesma forma, o conflito respinga no Brasil cada vez mais, explica Maria Laura Canineu, diretora do escritório local da Human Rights Watch. Hoje são mais de 2.000 sírios entre os 8.000 refugiados que chegaram ao país.

    "Essa questão tem desafiado o brasileiro no exercício da tolerância, solidariedade e direitos humanos [...] O governo brasileiro pode atuar melhor", defende a diretora.

    Chaim também chama atenção para a diferença de conscientização desde que começou a mostrar a situação dos refugiados, em 2013.

    "Ninguém se importava... hoje, por conta das mortes, as pessoas se sensibilizam mais. Porém, ainda falta muito. O preconceito fala mais alto", diz. "Quanto mais se falar nesse tema, melhor. Não é um problema restrito ao Oriente Médio, e sim, da humanidade."

    FILHOS DA GUERRA
    QUANDO de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 17h; até 16/1
    ONDE Zipper Galeria, r. Estados Unidos, 1.494, tel. (11) 4306-4306
    QUANTO grátis

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