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Ilustrada
Thursday, 21-Nov-2024 20:25:05 -03CRÍTICA
Em 'Os Oito Odiados', Tarantino copia (mal) os outros Tarantinos
THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO06/01/2016 02h05
Nos créditos iniciais de "Os Oito Odiados", aparece assim na tela: "O oitavo filme de Quentin Tarantino". A princípio, o aviso parece desnecessário, porque todos os elementos habituais da cinematografia do diretor serão jogados na tela pelas três horas seguintes: citações a outros filmes, atores "cult", muita falação e explosões sangrentas de violência.
Mas ressaltar que se trata de uma obra de Tarantino acaba sendo útil. Porque a falta de ritmo, as soluções preguiçosas do roteiro e a ausência de arroubos criativos podem fazer um desavisado acreditar que este filme seja obra de um imitador descarado do diretor.
É uma mistura de seu longa de estreia, "Cães de Aluguel" (1992), e do anterior, "Django Livre" (2012). Do primeiro, a reunião de gente violenta num lugar fechado -aqui, uma hospedaria no meio do inverno no Wyoming. Do segundo, o gênero faroeste e tensões raciais que se seguiram à Guerra Civil.
QUATRO + QUATRO
Quatro dos oito odiados chegam numa diligência: dois caçadores de recompensas, John Ruth (Kurt Russell) e o major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), a condenada à forca Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), prisioneira de Ruth, e o xerife recém-nomeado Chris Mannix (Walton Goggins).
Debaixo de uma nevasca, são obrigados a interromper a viagem, encontrando na hospedaria um veterano da Guerra Civil, o general Sandy Smithers (Bruce Dern), o carrasco profissional Oswaldo Mobray (Tim Roth), um silencioso caubói, Joe Gage (Michael Madsen), e um mexicano que toma conta do lugar, Bob (Demián Bichir).
Há uma nona pessoa, o cocheiro boa-praça O.B. (James Parks), que passa à margem da tensão que envolverá os oito confinados na casa.
Qualquer espectador atento vai passar boa parte do filme esperando a aparição de um ator famoso cujo nome está nos créditos iniciais, o galã Channing Tatum. Pena que a expectativa seja frustrada com um personagem fraco.
Atores habituais de Tarantino desde "Cães de Aluguel", Tim Roth e Michael Madsen não têm o que fazer. Bruce Dern, de "Django Livre", protagoniza a melhor cena, quando o general racista é provocado ao extremo pelo negro Warren, após a revelação de que ambos estiveram de lados opostos numa batalha.
Jennifer Jason Leigh, estrela na pós-adolescência em filmes como "Mulher Solteira Procura" (1992), entra para o clube dos atores resgatados do limbo que caracterizam os elencos de Tarantino. Tem a personagem mais engraçada.
Como caçadores de recompensa, Kurt Russell está ótimo, mas Samuel L. Jackson exagera o tempo todo -e ajuda a pôr o filme para baixo.
TRÊS HORAS
Seguindo a cartilha tarantinesca, o filme tem duas horas de conversa fiada para depois fechar uma terceira hora com cabeças explodindo e sangue voando -isso não é "spoiler", é Tarantino.
Há problemas maiores. Para desatar dois "nós" no roteiro, o diretor apela para soluções medíocres: incluir um narrador num pequeno trecho lá pela metade da projeção, para "explicar" uma cena, e fazer surgir do nada um personagem a mais.
Isso empobrece a trama. E não há brilho nem surpresa na mais do que manjada conclusão. Fica a sensação que Tarantino imitou Tarantino, e sem muita inspiração.
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