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    CRÍTICA

    Em 'Os Oito Odiados', Tarantino copia (mal) os outros Tarantinos

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    06/01/2016 02h05

    Nos créditos iniciais de "Os Oito Odiados", aparece assim na tela: "O oitavo filme de Quentin Tarantino". A princípio, o aviso parece desnecessário, porque todos os elementos habituais da cinematografia do diretor serão jogados na tela pelas três horas seguintes: citações a outros filmes, atores "cult", muita falação e explosões sangrentas de violência.

    Mas ressaltar que se trata de uma obra de Tarantino acaba sendo útil. Porque a falta de ritmo, as soluções preguiçosas do roteiro e a ausência de arroubos criativos podem fazer um desavisado acreditar que este filme seja obra de um imitador descarado do diretor.

    É uma mistura de seu longa de estreia, "Cães de Aluguel" (1992), e do anterior, "Django Livre" (2012). Do primeiro, a reunião de gente violenta num lugar fechado -aqui, uma hospedaria no meio do inverno no Wyoming. Do segundo, o gênero faroeste e tensões raciais que se seguiram à Guerra Civil.

    QUATRO + QUATRO

    Quatro dos oito odiados chegam numa diligência: dois caçadores de recompensas, John Ruth (Kurt Russell) e o major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), a condenada à forca Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), prisioneira de Ruth, e o xerife recém-nomeado Chris Mannix (Walton Goggins).

    Debaixo de uma nevasca, são obrigados a interromper a viagem, encontrando na hospedaria um veterano da Guerra Civil, o general Sandy Smithers (Bruce Dern), o carrasco profissional Oswaldo Mobray (Tim Roth), um silencioso caubói, Joe Gage (Michael Madsen), e um mexicano que toma conta do lugar, Bob (Demián Bichir).

    Há uma nona pessoa, o cocheiro boa-praça O.B. (James Parks), que passa à margem da tensão que envolverá os oito confinados na casa.

    Qualquer espectador atento vai passar boa parte do filme esperando a aparição de um ator famoso cujo nome está nos créditos iniciais, o galã Channing Tatum. Pena que a expectativa seja frustrada com um personagem fraco.

    Atores habituais de Tarantino desde "Cães de Aluguel", Tim Roth e Michael Madsen não têm o que fazer. Bruce Dern, de "Django Livre", protagoniza a melhor cena, quando o general racista é provocado ao extremo pelo negro Warren, após a revelação de que ambos estiveram de lados opostos numa batalha.

    Jennifer Jason Leigh, estrela na pós-adolescência em filmes como "Mulher Solteira Procura" (1992), entra para o clube dos atores resgatados do limbo que caracterizam os elencos de Tarantino. Tem a personagem mais engraçada.

    Como caçadores de recompensa, Kurt Russell está ótimo, mas Samuel L. Jackson exagera o tempo todo -e ajuda a pôr o filme para baixo.

    TRÊS HORAS

    Seguindo a cartilha tarantinesca, o filme tem duas horas de conversa fiada para depois fechar uma terceira hora com cabeças explodindo e sangue voando -isso não é "spoiler", é Tarantino.

    Há problemas maiores. Para desatar dois "nós" no roteiro, o diretor apela para soluções medíocres: incluir um narrador num pequeno trecho lá pela metade da projeção, para "explicar" uma cena, e fazer surgir do nada um personagem a mais.

    Isso empobrece a trama. E não há brilho nem surpresa na mais do que manjada conclusão. Fica a sensação que Tarantino imitou Tarantino, e sem muita inspiração.

    OS OITO ODIADOS
    (THE HATEFUL EIGHT)
    DIREÇÃO Quentin Tarantino
    ELENCO Samuel L. Jackson, Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh
    PRODUÇÃO EUA, 2015, 18 ANOS
    QUANDO estreia nesta quinta (7)

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