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    Diretor Hector Babenco recria doença e casamento em 'Meu Amigo Hindu'

    GUILHERME GENESTRETI
    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    03/03/2016 02h41

    O diretor Hector Babenco sai do sério quando insinuam que "Meu Amigo Hindu" é um longa autobiográfico. "Fico irritado, machucado até."

    "Jamais escreverei meu obituário. Não fiz o filme com a ideia de dizer 'olha, foi o que aconteceu comigo'", afirma Babenco. "Meu Amigo Hindu" estreia nesta quinta (3).

    O ofício de cineasta, a doença grave (um câncer no sistema linfático), o casamento desfeito –o que o diretor de "Pixote", "O Beijo da Mulher-Aranha" e "Carandiru" passou está ali, entretanto.

    Mas vivido sob a pele de Willem Dafoe, que interpreta Diego Fairman, um diretor de cinema que tem de recompor os cacos da vida –e a libido– após sobreviver à doença.

    O tal amigo hindu do título é o garoto com quem o personagem convive durante a quimioterapia e que pode ser, ou não, mais um fruto de seus delírios hospitalares –um deles é o encontro com a Morte, encarnada por Selton Mello como um burocrata entediado com quem Fairman trava divagações e jogos de xadrez.

    "Hector não queria fazer uma explanação do que passou", diz Dafoe à Folha. "O filme é uma meditação sobre a doença, sobre perder as coisas e depois reencontrá-las."

    Divulgação
    Cena do filme 'Meu Amigo Hindu'
    Cena do filme 'Meu Amigo Hindu'

    E como é viver alguém com tanto em comum com o seu diretor? "Sabe, às vezes eu perguntava a ele de onde vinham certas reações do personagem. Às vezes Hector me dava explicações precisas, às vezes se contradizia todo."

    Por vezes, ouvia um "vamos lá, cara, é um filme". Mas tudo bem, diz. "É que Hector vive a vida como se fosse um filme."

    O americano passou cerca de dois meses em São Paulo para as filmagens. Contracena com atores majoritariamente globais: Maria Fernanda Cândido, por exemplo, interpreta sua primeira mulher.

    Com Reynaldo Giannechini ficou o papel que remete ao colunista da Folha Drauzio Varella: médico com experiência no Carandiru e que, no filme, resolve escrever sobre sua vivência no presídio por sugestão de Fairman.

    Os brasileiros têm de arranhar todo o seu inglês para contracenar com Dafoe –uns com sotaques mais pronunciados, outros menos. Além disso, parte da trama se passa nos EUA, mas foi filmada na capital paulista, alterando-se placas do hospital Sírio Libanês e das ruas para o inglês.

    "Ninguém é obrigado a filmar na língua materna", diz o argentino Babenco.

    Algumas das cópias, contudo, serão dubladas em português (as partes dos brasileiros dubladas pelos próprios; a de Dafoe, por Marco Ricca).

    "Como o meu personagem é muito próximo a mim, foi positivo falar em inglês. Deu distanciamento", diz Barbara Paz. A atriz, que casou, descasou e recasou com Babenco, vive também uma atriz, ex-participante de certo reality show que confinava artistas...

    O trecho que mostra o programa de TV, com direito até a participação de Supla, foi suprimido do corte final, mas exibido na versão que passou na Mostra de Cinema de SP.

    Em novembro, Dafoe também apareceu na tela vivendo outro diretor de cinema, o italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975), em "Pasolini", dirigido por Abel Ferrara.

    "Havia muito material escrito que servia de base para fazer Pasolini: o foco era preciso", diz Dafoe. "Com Hector, a coisa era escorregadia."

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