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Ilustrada
Thursday, 03-Oct-2024 13:43:06 -03Musical blockbuster da Broadway, 'Wicked' chega hoje a São Paulo
MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE EDITORA-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"04/03/2016 02h00
Antes de Dorothy ser surrupiada por um tornado, Oz era um mundo menos hostil.
Ao menos é o que imaginou o americano Gregory Maguire ao escrever "Wicked", romance publicado em 1995 que narra uma trama paralela à de "O Mágico de Oz", de L. Frank Baum, em especial como uma menina incompreendida de pele esverdeada tornou-se a Bruxa Má do Oeste.
Transformado em musical oito anos depois, virou um dos maiores sucessos na Broadway, levando três prêmios Tony.
Foram quase US$ 4 bilhões de faturamento desde a estreia, com produções em Nova York e outras cidades de 13 países. Segundo a "Forbes", no último dezembro foi o musical de maior lucro da Broadway (US$ 2,94 milhões), superando o gigante "O Rei Leão" (US$ 2,87 milhões).
A história agora ganha o terreno brasileiro com ares de superprodução. A franquia de "Wicked" chega na sexta (4) a São Paulo com um orçamento de pré-produção –isto é, até a data de estreia– de R$ 16 milhões (R$ 8,9 milhões via Lei Rouanet). A produtora Time For Fun não divulga a verba total, mas, durante a temporada, estima-se que o valor possa dobrar, chegando à casa dos R$ 30 milhões.
Pelo tamanho do palco daqui, o cenário é também o maior que "Wicked" já teve, diz a diretora americana Lisa Leguillou, que está na produção desde a primeira montagem e, pelas suas contas, já a encenou em dez países.
ESMERALDA
A tal bruxinha incompreendida do título –Wicked Witch of the West, no original– é Elphaba Thropp (papel de Myra Ruiz), renegada pela família desde o nascimento pela cor estranha de sua pele.
Na faculdade, os colegas tiram sarro de sua aparência esmeralda. Na defensiva, passa a ideia de agressiva.
É o completo oposto da colega de classe Galinda, ou Glinda (Fabi Bang), de tino cômico e adorada por todos.
Em uma Oz que passa por estranhas mudanças, num governo autoritário que bane quem tem ideias contrárias às do regime, surge entre as duas uma improvável amizade.
No ambiente acadêmico, percebe-se que os poderes mágicos de Elphaba são mais poderosos do que os de qualquer aluno. Mas são mal interpretados pelos demais
"Ela tem uma força, mas também é muito menina", explica Myra. "Com o tempo, ganha maturidade." Mas sua "maldade" pode ser só um mal-entendido. "Ela sempre tenta fazer a coisa certa."
Para o papel do galã Fiyero, dois atores, Jonatas Faro e André Loddi, se revezam nas sessões. "O que posso dizer? Gostei deles. Não conseguimos decidir, então ficamos com os dois", conta Leguillou.
CRIAÇÃO
Trata-se de uma franquia, modelo no qual as produções costumam chegar bem definidas da matriz: parte do cenário e do figurino vem de fora e muitas vezes há indicações de como intérpretes devem atuar.
Com esta versão de "Wicked", porém, o elenco diz que teve bastante liberdade para criação. "Isso me surpreendeu, achei que seria bem mais engessado", relata Jonatas.
Rachel Ripani, diretora residente da montagem, nunca tinha assistido ao musical antes de integrar o projeto. "Acho que foi uma das razões por que me escolheram. Eu não tinha uma visão pré-concebida", comenta ela.
"A gente pôde imprimir nossa assinatura", diz Fabi. "O público às vezes espera assistir ao que viu na Broadway, na internet, e nosso desafio é superar essa expectativa."
WICKED
QUANDO qui. e sex., às 21h, sáb., às 16h e às 21h, dom., às 15h e às 20h; até 31/7
ONDE Teatro Renault, av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, tel. (11) 4003-5588
QUANTO R$ 50 a R$ 280
CLASSIFICAÇÃO 12 anos*
ELPHABA, A MÁ
Myra Ruiz aparece no camarim com um umidificador sobre o nariz e a boca. "É para as cordas vocais", explica. "As músicas de 'Wicked' são dificílimas. É uma partitura que vai ao extremo da voz."
Mas Elphaba é um papel que a atriz de 23 anos sonha em fazer desde os 15, quando viu a montagem pela primeira vez na Broadway.
À época passava uma temporada de um ano em Nova York estudando. No colégio, tinha aulas de teatro no período da tarde.
Pedro Dimitrow/Divulgação Myra Ruiz faz a bruxa Elphaba em "Wicked" De volta ao Brasil, participou de produções musicais (como "Mamma Mia", de 2010), mas decidiu retornar à cidade americana aos 19 para aperfeiçoar a técnica. Estudou por oito meses no prestigiado Lee Strasberg Theatre & Film Institute, que, em suas escolas, já teve alunos como Alec Baldwin e Angelina Jolie.
Em 2014, ganhou sua primeira protagonista na adaptação brasileira do musical "Nas Alturas". E no ano passado chamou a atenção como a prostituta Saraghina de "Nine", versão de Charles Möeller e Claudio Botelho.
Agora assume o papel que foi, na primeira montagem de "Wicked", da atriz Idina Menzel –a voz da personagem Elsa, de "Frozen", e do hit "Let It Go".
"Acho que estou num momento da minha vida semelhante ao da Elphaba: ganhando maturidade, mas ainda com um olhar de menina."
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GLINDA, A BOA
Fabi Bang, 31, demorou para resgatar a herança musical de família. Bisneta do compositor Alberto Nepomuceno (1864-1929), cresceu com um piano de cauda em casa. Mas foi pela dança que iniciou sua carreira artística.
Formou-se em balé clássico aos 18 e, desde então, trabalha em musicais. No início, porém, apenas dançava, e só três anos depois decidiu aprender a cantar.
"Como tinha um piano em casa, eu tentava, instintivamente, alcançar as notas com a minha voz", lembra. "Acho que isso me fez ter uma afinação desde cedo, mas só fui aprender a cantar de verdade há dez anos."
Lenise Pinheiro/Folhapress Glinda (Fabi Bang, à esq.) e Elphaba (Myra Ruiz) em "Wicked" Saiu do seu Rio natal em 2005 para atuar em São Paulo. Fez de tudo um pouco em musicais: integrou elencos de bailarinos, participou de coros e foi atriz substituta.
De lá pra cá, angariou papéis em "Priscilla, a Rainha do Deserto" (2012), "A Família Addams" (2012), "O Homem de La Mancha" (2014).
Em "Kiss me Kate: o Beijo da Megera" (2015), teve destaque como a cômica Luísa, mas é só agora com Glinda que interpreta uma protagonista. "É a personagem de musicais que considero a mais carismática."
O peso do papel ela carrega pro palco. Miúda –mede 1,59 m e pesa 49 kg–, precisa encarar em parte das cenas um vestido azul de dez quilos (foto acima), com o qual tem de cantar, correr e sobrevoar o palco em uma bolha metálica.
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