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Ilustrada
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Gêmeos torturam a mãe em longa que tem frieza cirúrgica
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA10/03/2016 02h41
"Boa Noite, Mamãe" é um exercício de sadismo cinematográfico à moda de "Funny Games" (1997), do compatriota Michael Haneke.
O fato de os dois filmes virem da Áustria levanta a hipótese de uma influência artística entre cineastas de diferentes gerações. Mas também a de que existe algo de perverso no caráter nacional que precisa ser desvelado por seus realizadores.
No filme mais antigo, dois psicopatas aterrorizam uma família com uma série de brincadeiras cruéis em uma casa isolada à beira de um lago.
No novo, dois irmãos gêmeos, de 9 anos, aterrorizam sua mãe com uma série de jogos cruéis em uma casa isolada, à beira de um lago.
Portanto, "Boa Noite, Mamãe" leva o jogo de sadismo a outro nível. A crueldade agora se dá no seio da própria família, entre membros que simbolizam o paroxismo do amor: mãe e filhos.
Divulgação Cena do filme 'Boa Noite, Mamãe' A proximidade essencial entre as duas obras talvez não seja temática, e sim estética. Nas duas, o horror é tratado com frieza cirúrgica, como um cadáver a ser dissecado.
O ponto de partida de "Boa Noite, Mamãe" é a chegada da mãe à casa de campo onde estão os gêmeos, depois de uma cirurgia plástica, com faixas de gaze cobrindo sua cabeça.
Não é apenas sua aparência que está mudada, mas também seu comportamento: ela trata os filhos de forma áspera e confusa.
Os gêmeos Lukas e Elias desconfiam de que a pessoa que voltou do hospital talvez não seja sua mãe –e sim um um duplo perverso.
Eles decidem, então, torturá-la para que confesse a farsa –até que uma virada na trama, bem conduzida pelos diretores, esclareça a situação.
As cenas de violência são bastante explícitas –e particularmente cruéis por serem de filhos contra mãe.
A ideia de uma mãe falsificada abre espaço para muitas interpretações sobre amor materno, traumas familiares, relações de afeto e autoridade. Mas, a partir da metade do filme, seus diretores preferem trocar essa gama de possibilidades pelo desejo mais primário de ostentar um estilo e, ao mesmo tempo, chocar o espectador.
Eles conseguem cumprir as duas tarefas, mas ao custo de entregar um filme menos interessante do que a promessa inicial.
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