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    crítica

    Novo filme de Wim Wenders é cópia apagada do que ele já fez

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    10/03/2016 02h36

    O que terá acontecido a Wim Wenders? A pergunta é inevitável aos que veem os títulos das primeiras fases do diretor alemão, de "Alice nas Cidades" (1974) a "Asas do Desejo" (1987), que permanecem intactos.

    Com "Tudo Vai Ficar Bem" Wenders volta à ficção após sete anos dedicados a documentários. Depois de experimentar o 3D com resultados instigantes em "Pina" (2011), o diretor retoma o processo. Mas não será possível avaliar se a tecnologia agrega profundidade à dramaturgia, pois a distribuidora decidiu só lançar cópias sem relevo.

    O que sobra dessa experiência de linguagem são composições estilizadas em que Wenders retoma a influência da pintura de Edward Hopper.

    O vazio melancólico que cerca as figuras isoladas na arquitetura nos quadros de Hopper é uma forma em que o cineasta se inspira para expressar as crises que imobilizam seus personagens.

    A incapacidade geral de amar, o foco no poder de uma criança restaurar afetos, o devaneio como ato de resistência do indivíduo são questões que Wenders recupera, mas que reaparecem reduzidas a ossificado recurso autoral.

    Donata Wenders/Divulgação
    Charlotte Gainsbourg e James Franco, em cena do filme 'Tudo Vai Ficar Bem
    Charlotte Gainsbourg e James Franco, em cena do filme 'Tudo Vai Ficar Bem'

    O que em seus melhores filmes era parte ressentimento, parte mutismo produzia uma intensidade melancólica certa. Depois, a inação passou a exigir motivações, explicações psicológicas, como determinam os manuais de roteiro.

    "Tudo Vai Ficar Bem" também sofre com a escolha de atores como James Franco e Charlotte Gainsbourg, mais personalidades do que intérpretes de personagens.

    A entrada tardia de um ator ainda bruto, como Robert Naylor, que interpreta, tempos depois, o menino visto nas primeira cenas injeta vitalidade.

    É insuficiente para evitar que o filme seja só uma cópia apagada do que Wenders já fez melhor.

    TUDO VAI FICAR BEM
    (Every Thing Will Be Fine)
    DIREÇÃO: Wim Wenders
    ELENCO: Rachel Mcadams, James Franco e Peter Stormare
    PRODUÇÃO: Alemanha/Canadá/França/Suécia/Noruega, 2015, 14 anos

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