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    Filme perfila Carlos Imperial, o cafajeste que abalou a cultura do país

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    17/03/2016 02h47

    Múltiplo, intenso, histriônico, misógino e espalhafatoso –um cafajeste de coração enorme. Esse foi Carlos Imperial, ou pelo menos é o que deixa ver o filme sobre o músico, produtor, cineasta, apresentador de TV e político que abalou a cultura popular do país no auge das pornochanchadas e da jovem guarda.

    "Eu Sou Carlos Imperial", documentário de Renato Terra e Ricardo Calil agora nos cinemas, destrincha a vida e os hábitos do bon vivant que escreveu clássicos como "Vem Quente, Que Eu Estou Fervendo" e "Mamãe Passou Açúcar em Mim", além de ter lançado de Roberto Carlos e Tim Maia a Clara Nunes e Elis Regina.

    No Rio dos anos 1970 até a reabertura democrática, Imperial, que morreu aos 56, em 1992, foi um furacão. Não saía das páginas de jornais e revistas nem da televisão. Vivia pelado numa mansão abarrotada de garotas que desfilavam de calcinha e nem corava ao dizer que o "melhor predicado da mulher é a burrice".

    Divulgação
    Documentário "Eu Sou Carlos Imperial" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Carlos Imperial em cena de um dos seus filmes reproduzida no documentário

    Mas mesmo com toda sua influência e o avantajado tamanho físico, Imperial acabou relegado a um segundo plano da história do entretenimento no país, talvez ofuscado pelo brilho dos nomes que levou ao estrelato. Sua fama de cafajeste e mentiroso, aliás, também não colaborou para a preservação de sua memória.

    Nesse sentido, Calil –crítico de cinema da Folha– e Terra voltam ao universo que começaram a retratar em "Uma Noite em 67", filme lançado há seis anos sobre a final do Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, disputado por Caetano, Gil, Chico e Roberto.

    Todos eles, em especial o Rei, já falavam de Imperial como uma influência incontornável nas entrevistas que deram à dupla para aquele documentário, o que acabou levando à realização do filme que entra agora em cartaz.

    "Ele era um grande mentiroso, um cara que levou a vida sempre na fronteira entre a verdade e a mentira", diz Calil. "Isso nos pareceu interessante para um documentário, em que você é obrigado a lidar sempre com a verdade."

    No mundo de Imperial, aliás, verdade é algo relativo.

    E o filme lembra episódios famosos, como quando o músico esmurrou Erasmo Carlos durante uma apresentação num programa de rádio, um golpe armado para chamar a atenção da imprensa, ou sua campanha para lançar um filme que dizia ser inspirado num conto de Pasolini que nunca existiu.

    Depois de uma briga com o ator Mário Gomes, Imperial escreveu num jornal que o galã fora internado com uma cenoura entalada em "local invisível", alojada ali num "momento de incontido desejo".

    "Ele crescia na polêmica, esculhambava quem esculhambasse ele", diz Terra. "Hoje ele seria inviável do ponto de vista jurídico, seria processado", completa Calil.

    Aqui, "Eu Sou Carlos Imperial" acaba por celebrar o politicamente incorreto, com nostalgia por um tempo em que o humor tinha menos limite.

    Mesmo artistas com quem Imperial trabalhou ao longo da vida se dizem traídos ou sacaneados por ele no filme, mas relatam suas memórias sempre com um verniz de carinho.

    "Ele passou por cima de algumas pessoas, então a gente tinha a sensação que os entrevistados iam falar mal dele", conta Calil. "Talvez viesse uma artilharia pesada, mas veio uma artilharia suave."

    É uma suavidade que os cineastas esperam que ajude a resgatar sua memória. "Ele morreu há mais de 20 anos, e as pessoas perderam a noção da importância dele", diz Calil. "Ele é menos reconhecido do que deveria."

    EU SOU CARLOS IMPERIAL
    DIREÇÃO Renato Terra e Ricardo Calil
    PRODUÇÃO Brasil, 2016, 16 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (17)

    Edição impressa

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