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    ANÁLISE

    Huck no Masp mostra museu longe do pensamento artístico

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    01/04/2016 02h17

    Foi aprovada, na quarta-feira (30), no Conselho Deliberativo do Museu de Arte de São Paulo (Masp), a entrada de Luciano Huck como membro. Junto a ele, outros quatro novos integrantes: os advogados Leo Krakowiak e Beno Suchodolski, o banqueiro Eric Hime, e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

    Mesmo antes da aprovação, o nome de Huck já havia se tornado público na revista "Veja SP" de sábado (26), o que gerou comentários nas redes sociais ironizando-o.

    No artigo, afirma-se que Huck pagaria R$ 150 mil para entrar no conselho. A assessoria de imprensa do Masp afirma que "a contribuição anual obrigatória é de R$ 27 mil", mas que o apresentador ainda "não confirmou o valor". Mas R$ 150 mil, diz o Masp, é a contribuição média anual do conselho.

    A entrada de Huck no Masp mostra uma estratégia desenvolvida pelo atual diretor-presidente do museu, Heitor Martins, desde que assumiu a Fundação Bienal de SP em estado de falência, em 2009.

    Assis Chateaubriand e Ciccillo Matarazzo, grandes mecenas, fundadores do Masp e da Bienal, tornaram viáveis as duas instituições com aportes pessoais, nos anos 1950. Após suas saídas, o modelo sucumbiu, já que seus sucessores, com raras exceções, não conseguiram manter os altos custos de suas manutenções.

    Martins, então, passou a levar para a Bienal e depois para o Masp um grupo de empresários que quitou as dívidas. Claro que, agora, com grande ajuda de leis de incentivo fiscais.

    Tanto Chateaubriand como Matarazzo se cercavam de pessoas com sensibilidade para a arte, o que foi essencial para as instituições.

    No novo modelo, porém, os conselhos de ambas são feitos de "figuras do setor financeiro, empresarial, comunicação, arquitetura e entretenimento", na definição do museu.

    Ou seja, figuras um tanto distantes do pensamento artístico especializado. Praticamente não há artistas, curadores, críticos. Quem toma decisões importantes, como a eleição do diretor, são basicamente figuras estratégicas para captação financeira, que na melhor das hipóteses são colecionadores.

    Aí apresenta-se outro problema: um dos diretores do Masp, por exemplo, conseguiu o comodato (empréstimo) de imagens do Foto Cine Clube Bandeirante para o museu, sendo que esse conjunto foi uma das primeiras mostras da nova gestão. Contudo, o próprio diretor é colecionador dessas imagens, o que dá a impressão de que está usando o museu para valorizar sua própria coleção.

    Assim, Huck é apenas mais um exemplo de que, nesse novo sistema, as instituições de arte têm em seus conselhos superiores interesses um tanto distantes do que na arte realmente importa.

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