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Mágico, novo 'Mogli - O Menino Lobo' não é só para crianças
TETÉ RIBEIRO
EDITORA DA 'SERAFINA'14/04/2016 02h07
Quem foi criança antes do fenômeno "Rei Leão" (1994) vai entender: não tem nenhum filme –desenho, no caso, mas longa-metragem– com bichos mais importante que "Mogli", a versão lançada pela Disney em 1967 e exibida em cinemas muitas vezes entre as décadas de 1960, 70 e 80. Um distante segundo lugar seria "101 Dálmatas" (1961), do mesmo estúdio.
"Mogli" é totalmente selva; já "Dálmatas", 100% urbano, sofisticado. Em "Mogli" os adultos são os bichos, o humano é a criança indefesa. Em "Dálmatas", o contrário, os adultos humanos, entre malvados e bonzinhos, querem ou proteger ou vestir a pele dos filhotes.
Na natureza, cenário de "Mogli", os sentimentos são bem mais crus. Entre malvados e bonzinhos, os bichos adultos querem proteger ou sequestrar e exterminar o menino, seja por vingança, seja por proteção ou apenas nutrição. Em "Dálmatas", a vilã é a vaidade.
Ambos viraram filmes com gente de carne e osso, "101 Dálmatas" em 1996, "Mogli" agora. O primeiro acabou transformado em uma aventura para crianças, daquelas que aborrecem os adultos obrigados a acompanhar seus filhos no cinema. "Mogli", suspeito, fará o movimento oposto. E, graças aos óculos escuros obrigatórios para a versão 3D –primorosa, aliás–, muito marmanjo vai poder chorar na frente dos filhos sem ser desmascarado.
Divulgação O orangotango Louie, a cobra Kaa, Mogli, a pantera Baguera, o urso Baloo e o tigre Shere Khan Se era plano do diretor Jon Favreau, deu certo: o novo "Mogli" produz a mesma sensação de espanto que "Avatar". É o tipo de filme grande e sem cerimônia, que aumenta o volume do "uau" da plateia. E mesmo para quem viu o original quando criança e sabe de cor as letras das músicas cantadas pelos bichos em português vale ver a versão legendada.
Com atores como Ben Kingsley, Bill Murray, Scarlett Johansson e Christopher Walken nas vozes dos animais, o trabalho de fazer os lábios dos bichos gerados digitalmente se movimentarem exatamente como fariam se formassem aquelas sílabas deixa tudo mais verossímil. Sim, verossímil. Durante uma hora e 45 minutos, dá para acreditar completamente que aqueles bichos falam e pensam daquela maneira.
Por isso uma única ressalva: por que não fazê-los cantar também? As únicas duas músicas que estão no longa são a do urso Balu e a do rei Louie. São as mais famosas, as melhores, mas fazem falta a marcha dos elefantes, o coral dos urubus e a balada exoticona da cobra Kaa (esta ganhou uma linda versão na voz de Scarlett que toca nos créditos finais –não vá embora correndo assim que o filme acabar).
Por fim, o garoto. Neel Sethi, nova-iorquino de origem indiana escolhido para ser o único de carne e osso nessa aventura cinematográfica, é uma revelação. Um bom ator, que não deixa a peteca cair, não faz gracinha para a câmera e nem parece atuar. É um menino-lobo, à vontade entre os seus, os outros bichos da selva, e com o lugar e as condições em que passou quase toda a vida.
"Mogli" é uma experiência mágica: o longa-metragem animado preferido da infância virar um filme para adulto nenhum botar defeito não é uma coisa qualquer.
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