Em "Imagens do Estado Novo: 1937-1945", o mais recente documentário de Eduardo Escorel, vemos quase quatro horas de imagens impressionantes, e na maior parte oficiais, criadas como propaganda do regime totalitário de Getúlio Vargas.
Por ser muito bem realizado, é obrigatório para quem quiser entender nosso passado, nossa constituição política, nossa formação.
O longa amplifica a investigação empreendida pelo cineasta em três filmes que também trazem datas no título (para reforçar o valor de documento histórico): os médias "1930: Tempo de Revolução" (1990) e "32: A Guerra Civil" (1992), e o longa "35: O Assalto ao Poder" (2002).
Nesses casos, é grande o risco do material ser desvirtuado no meio do processo, tornando-se, às vezes inconscientemente, um mero panfleto político, seja de que lado e em que período estiver.
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Getúlio Vargas em cena do documentário 'Imagens do Estado Novo'', de Eduardo Escorel |
Escorel parece ciente desse risco. Evita-o ao ser rigoroso no desenvolvimento da estrutura da narrativa histórica (o roteiro é escrito por ele e Flávia Castro). Rigoroso a tal ponto que as imagens de diversões ou do Carnaval, também documentos históricos, completam o mosaico da vida brasileira na época.
Há adequada preocupação em ser didático. Como nos três filmes anteriores, temos uma narração (bem lenta e pausada, do próprio Escorel) que explica e costura as imagens, sustentando a estrutura.
Assim, Escorel diminui os riscos de incompreensão (ou má compreensão) de seu trabalho e insere a crítica, num duelo entre palavras e imagens, estratégia usada nos documentários do cinema novo.
Vemos os adversários políticos, os golpes bem sucedidos, a ameaça integralista capitaneada por Plínio Salgado (perigosa aproximação com o nazismo), a violenta repressão (Vargas habilmente conseguiu se dissociar dessa violência), a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), a insistência na neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, a aproximação dos EUA de Roosevelt, entre muitas outras coisas
Passamos também pelos sucessos musicais da época e pelo lançamento de "O Descobrimento do Brasil" (1937), de Humberto Mauro, um dos mais importantes filmes históricos brasileiros.
"Imagens do Estado Novo", com sua imponência, é para quem entende que cinema pode ser muito mais do que uma simples diversão acompanhada de um grande saco de pipoca.