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    Editado por Aguinaldo Silva, jornal gay 'Lampião da Esquina' ganha filme

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    18/08/2016 12h11

    O primeiro jornal gay a circular no país acendeu uma centelha num pai de família. Lendo o "Lampião da Esquina", tema de documentário homônimo que estreia na quinta (18), descobriu que a homossexualidade existia e nada tinha a ver com o que era dito na época.

    "Nos interessa destruir a imagem-padrão que se tem do homossexual, segundo a qual ele é um ser que vive nas sombras, que prefere a noite, que encara sua preferência sexual como uma espécie de maldição", defendia o editorial da primeira edição, publicada em março de 1978.

    O leitor acabou procurando a redação do "Lampião", chefiada pelo repórter policial Aguinaldo Silva, hoje famoso autor de novelas da Globo. Pediu ajuda aos jornalistas porque queria saber onde poderia se encontrar com homens.

    Narrado no documentário dirigido por Lívia Perez, o caso é uma das tantas contribuições do jornal ao questionamento dos costumes no Brasil que entrava nos últimos anos da ditadura. Em cartaz no CineSesc, em São Paulo, será exibido no Canal Brasil no início de 2017.

    O filme ouve personagens que se assumiam em suas entrevistas e em saios fotográficos, como os cantores Ney Matogrosso e Leci Brandão, além dos colaboradores. Entre eles, os escritores João Silvério Trevisan, Glauco Mattoso e, claro, Aguinaldo Silva.

    O "Lampião" se inspirou no norte-americano "Gay Sunshine". Debatia a visibilidade LGBT ao mesmo tempo em que publicava reportagens sobre aborto, legalização das drogas prostituição e o assassinato de transexuais –temas de uma atualidade constrangedora.

    "Era um jornal que no fim dos anos 1970 e começo dos 80 pautou muito do que é a agenda da imprensa e dos movimentos sociais hoje", comenta a diretora, nascida em 1985, quatro anos após o jornal sair de circulação em 1981.

    Transgressora, a publicação contrariava a imprensa alternativa e seu principal representante, "O Pasquim", que representava gays de maneira pejorativa inclusive quando falava do assassinato do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975), assumidamente homossexual.

    "Vejo que o público reage ao documentário com surpresa, ao descobrir esse passado de militância. Muito do que debatemos hoje já foi feito [pelo Lampião]. Poderíamos avançar mais", afirma Perez.

    As edições do jornal foram digitalizadas pelo Grupo Dignidade, ONG que promove a cidadania da comunidade LGBT. Os exemplares estão disponíveis para a leitura neste link.

    LAMPIÃO DA ESQUINA
    DIREÇÃO Lívia Perez
    PRODUÇÃO Brasil, 2016, 18 anos
    QUANDO em cartaz até terça (23)
    ONDE CineSesc, r. Augusta, 2.075, tel. (11) 3087-0500

    Edição impressa

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