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    Novela são dois querendo ir para a cama e alguém empatando, diz Negrão

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE ENVIADA ESPECIAL AO RIO

    29/08/2016 02h15

    Ramon Vasconcelos/Rede Globo
    Walther Negrão, autor da novela "Sol Nascente" (Globo)
    O autor de novelas Walter Negrão

    Walther Negrão ata algumas pontas de sua vida na trama de "Sol Nascente", folhetim das 18h que a Globo estreia nesta segunda (29).

    Mais longevo novelista brasileiro, com 75 anos de idade e 58 de televisão, Negrão reencontra Francisco Cuoco, estrela de sua primeira telenovela –"Renúncia", exibida pela Record em 1964.

    Cuoco será Gaetano, patriarca da família italiana De Angeli, amiga há décadas dos japoneses Tanaka. Os filhos dos clãs, Mario (Bruno Gagliasso) e Alice (Giovanna Antonelli, filha adotiva dos orientais), crescem juntos e se apaixonam na idade adulta.

    Outro lugar comum é praia –desta vez, a turística e ficcional Arraial do Sol Nascente. A paisagem também foi o cenário de "Top Model" (1989) e das solares "Tropicaliente" (1994) e "Flor do Caribe" (2013), coautoria de Negrão, Suzana Pires e Julio Fischer. O trio reedita a parceria em "Sol Nascente".

    "A primeira que escrevi [na Tupi] era um teleteatro, com mar e praia", diz, levando uma taça de champanhe à boca. "Pô, acho que estou indo para as origens. Agora estou vendo que ficou na minha memória isso, entende? Uma história sobre gente de praia."

    NOVELA É UMA NOVELA

    Negrão é do tempo em que teledramaturgia era feita ao vivo, bebendo em textos do teatro e das radionovelas – "Renúncia" é uma adaptação da radiofônica "Herança de Ódio", de Oduvaldo Vianna.

    Curiosamente, Vianna foi revisitado por Walcyr Carrasco em "Êta Mundo Bom", antecessora de "Sol Nascente". A novela recriou trechos de "Herança de Ódio", levada ao ar pela rádio Tupi em 1951.

    O melodrama e o maniqueísmo (ou seja, um novelão) garantiram a "Êta Mundo Bom" a maior audiência no horário desde 2007. A trama parte rural, parte na São Paulo dos anos 1940 chegou a marcar 33 pontos em todo o país, ou 22,5 milhões de espectadores, segundo o Ibope.

    "Sol Nascente" é contemporânea, mas não fugirá da cartilha da telenovela que a geração de Negrão inventou. "É o folhetim, que sempre existiu. Quando desprende da origem, se esborracha."

    A amizade entre italianos e japoneses sustenta a história de amor de Mario e Alice. Os capítulos prometem as clássicas idas e vindas entre o casal, movimentadas pela dupla de vilões que arma para ver os pombinhos separados.

    "Na verdade, tem uma definição muito simples de novela do Walter Durst [1922-1997]: são dois querendo ir para a cama e alguém empatando", ele ri. "A novela clássica é essa, e no fim eles [os mocinhos] se casam."

    O que muda "são os impedimentos: ganância, testamento". Pergunto se a fórmula ainda convence –há gente no mundo tão empenhada em separar um casal em 2016? "Não, não tem. Mas novela é coisa antiga. E a gente tem que lembrar que as pessoas que a assistem são antigas."

    A parceria com Suzana e Julio, porém, tem rejuvenescido o veterano. "Eles acham que estou ensinando. Na verdade, sou um vampiro, coloco um canudo na garganta de cada um e vou bebendo da juventude."

    "Geminiano com ascendente em gêmeos", Negrão atribui ao horóscopo sua personalidade imparável. Em maio, sofreu um AVC que o deixou hospitalizado por mais de um mês. No fim da primeira semana, voltou a escrever do quarto. "Estava deixando tudo nas costas deles, pô."

    A doença, minimiza, foi "um susto médio". "Já tive outra vez. Sou campeão panamericano de entupimento de veias." E dá mais um gole na terceira taça da conversa.

    A jornalista GABRIELA SÁ PESSOA viajou a convite da Globo

    SOL NASCENTE
    Seg. a sáb., às 18h15, na Globo

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