Lotar o Teatro Municipal do Rio, com seus cerca de 2.300 lugares, numa noite de segunda-feira e ingressos começando em R$ 120, não é tarefa ordinária. Mas os 40 anos de carreira de Zé Ramalho, mote para o show desta segunda (5), tampouco foram ordinários.
"Carreira longa, carreira difícil, carreira feliz", lembrou o artista, em determinado momento da noite. O repertório só de sucessos fez um bom panorama de sua trajetória.
Ali estiveram o Zé messiânico, o romântico, o apocalíptico, o garoto de programa, o representante dos gêneros nordestinos e o autor de trilhas de novela. Também houve o reconhecimento a duas de suas principais influências, Raul Seixas e Luiz Gonzaga.
Sans Michael Campestrini/Divulgação | ||
Zé Ramalho em show no Teatro Guaíra, em Curitiba, em março |
Vestido todo de preto, como uma versão cabloca de Johnny Cash, Ramalho abriu o show com interpretação grave do clássico "O que É, o que É?", de Gonzaguinha, transformando o samba original em uma balada folk com tons soturnos.
Acompanhado do quinteto Banda Z – bateria, baixo, teclados, sopros e percussão –, foi pareando os sucessos por afinidade temática e melódica.
Assim, por exemplo, "Chão de Giz" e "Garoto de Aluguel" vieram em sequência, como as duas de Raul ("Gita" e "Medo da Chuva"), as místicas "Avohai" e "Vila do Sossego" e os baiões "A Terceira Lâmina" e "Banquete de Signos".
Esta última dobradinha, um dos pontos altos do show, destacou a participação da banda, notadamente dos sopros e da zabumba. "Esse é o forró filosófico no grande circo do baião místico. Esse é o nordeste passando", disse o cantor, à guisa de apresentação para "A Terceira Lâmina".
Outros momentos de notável participação da banda foram a introdução de "Vila do Sossego", com contrabaixo marcante, e a da carnavalesca "Frevo Mulher", que citação de "Beat It" (Michael Jackson).
Como tem sido praxe em shows no Rio, seja em lugares mais alternativos como o Circo Voador, seja em casas mais elitistas como o Metropolitan ou o Teatro Municipal, gritos de "fora, Temer" ecoaram ao longo da apresentação.
Na noite de segunda, o ponto alto do protesto foi logo após a execução de "Admirável Gado Novo". Zé Ramalho, no entanto, não reagiu em nenhum momento.
Se abriu sua apresentação com o filho em marcha lenta, Ramalho fechou com o pai em ritmo acelerado: "Vida do Viajante", clássico de Gonzagão sobre a rotina itinerante de quem escolhe a vida dos palcos, foi a conclusão perfeita para uma noite de comemoração de 40 anos de uma carreira "longa, difícil, feliz".
O cantor se apresenta nesta terça (6), na Estância Alto da Serra, em São Paulo, e volta à capital paulista em 5 de novembro, para show no Tom Brasil.
Repertório Zé Ramalho
"O que É, o que É?"
"Galope Rasante"
"Kryptônia"
"Beira-Mar"
"Entre a Serpente e a Estrela"
"Táxi Lunar"
"A Terceira Lâmina"
"Banquete de Signos"
"Eternas Ondas"
"Avohai"
"Vila do Sossego"
"Chão de Giz"
"Garoto de Aluguel"
"Admirável Gado Novo"
"Gita"
"Medo da Chuva"
"Frevo Mulher"
"Sinônimos"
"Vida do Viajante"