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    Crítica

    Biografia de Vivienne Westwood explora origens da cultura punk

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    05/11/2016 02h16

    Biografias autorizadas de estilistas costumam resvalar no marketing barato, calhamaços fartamente ilustrados que entregam histórias glamorosas e narrativa vaga, sem detalhismo e rigor na apuração dos fatos. Não é o caso de "Vivienne Westwood".

    Treze anos após o lançamento de "An Unfashionable Life" (ou, Uma Vida Fora de Moda), esquecível relato de Jane Mulvagh sobre o legado da "dama do punk", o ator e biógrafo Ian Kelly descortina as raízes do punk e da moda dos anos 1960 e 1970 a partir de um mergulho na vida íntima de Westwood.

    Divulgação
    ORG XMIT: 304401_0.tif A estilista Vivienne Westwood e o artista britânico Malcolm McLaren, então um casal, em sua loja Let It Rock. (Foto Divulgação)
    A estilista Vivienne Westwood e o artista e empresário Malcolm McLaren, quando eram um casal

    E na de Malcom McLaren (1946-2010), ex-marido da estilista, que, ao seu lado, fundou as bases do visual punk e a polêmica loja SEX, na King's Road, em Londres, cujos provadores virariam ponto de interseção de todos os jovens roqueiros do Ocidente.

    Foi naquele lugar onde se produziu o visual que os jornais da época tacharam de afronta aos bons costumes, tornando inimigos públicos da moral e, por isso, modelos para a juventude, gente como Mick Jagger, Iggy Pop, David Bowie, Syd Barrett e Debby Harry. A lista de clientes transgressores é imensa.

    Os pormenores da relação destrutiva – "mas feliz", segundo Kelly frisa no livro–entre esses dois ícones da cultura pop é um dos trunfos do livro. As brigas nos bastidores da construção do estilo adicionam a liga desse feito, impossível até pouco tempo, de reconstruir os encontros seminais do punk por meio dos relatos sinceros de uma das poucas lendas vivas da moda.

    Westwood, aos 75, não mede palavras ("porque aos mortos devemos a verdade")para definir McLaren como uma criança, de quem tirou a virgindade e via na mulher uma figura materna controladora.

    Ela exemplifica a personalidade infantil do ex-estudante de história da arte, que seria responsável pelo sucesso do Sex Pistols, banda precursora do punk no Reino Unido, numa passagem que conta a relação que ele mantinha com o filho dos dois, Joseph Corré.

    "Ele [Malcom] sempre se recusou a ser chamado de 'papai'", diz. "Chamava o grande cacto que ele havia comprado e do qual eu gostava tanto de 'papai do Joe'."

    O talento da jovem garota britânica, que vendia bijuterias e roupas usadas no mercado de pulgas da Portobello Road antes de transformar em símbolo do inconformismo ossos de galinha colados em camisetas, ganha projeção ainda maior do meio para o fim.

    Vivienne Westwood
    Vivienne Westwood
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    Muito tempo depois de rasgar camisetas, transformar látex em tecido e levar o "tartan" escocês para as ruas, a genialidade de Westwood se desgarrou da montanha russa McLaren e evoluiu para a alta-costura já nos anos 1980.

    É nos contos dos dias atuais que Kelly, forasteiro no universo da costura até o primeiro contato com os bastidores de um desfile da estilista, em Paris, escorrega.

    Por vezes, mostra deslumbre e abusa de impressões e descrições caricatas do 'mundinho fashion'. São pequenos deslizes diante da grandeza de um nome finalmente revelado em sua complexidade.

    *

    VIVIENNE WESTWOOD
    AUTORES Vivienne Westwood e Ian Kelly
    EDITORA Anfiteatro
    QUANTO: R$ 69,90 (496 págs.)

    Edição impressa

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