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'La La Land' foge de clichês e promove o velho junto do novo
INÁCIO ARAÚJO
CRÍTICO DA FOLHA15/01/2017 02h01
Se a primeira imagem de "La La Land" remete a Godard, logo em seguida é dos movimentos de câmera magistrais de Busby Berkeley que lembramos.
Boa maneira de dizer, para começo de conversa, que aqui teremos um encontro do velho com o novo. Que os mestres do musical (de que Berkeley é uma espécie de pai de todos), mas não só eles, serão evocados.
Com efeito, a trama de "La La Land" remete aos anos 1930/40. Estamos em Los Angeles, claro, e Mia (Emma Stone) é a garçonete que sonha em ser atriz. Já o pianista Sebastian (Ryan Gosling) sonha em ter um clube de jazz e em reerguer o gênero (aparentemente bem em baixa por lá).
Mia vai dando murro em ponta de faca, teste após teste. Sebastian perde empregos por tocar as músicas de que gosta. O encontro é inevitável e acontece como tem de acontecer num musical: por música.
A tradição, já se vê, não é apenas uma escora para o filme: a coreografia é forte, assim como a direção de arte. Se Ryan Gosling não é um Fred Astaire, defende-se bem.
Lembremos que o musical romântico é um gênero em que o clichê está sempre à espreita. Eis uma virtude a mais da direção (e da escrita) de Damien Chazelle: ele sabe provocar o clichê, o "déjà vu", para depois melhor despistá-lo e, ao mesmo tempo, enganar-nos. O espectador é alguém que gosta de ser enganado.
Em resumidas contas, existe quase um abismo a separar "La La Land" dos musicais mais ou menos recentes, de "Mamma Mia" a "Chicago" (Oscar de melhor filme em 2003).
Ou, por que não lembrar, "Whiplash", que o próprio Chazelle dirigiu (e escreveu em 2013), que padecia de uma mise-en-scène tão dura quanto sua temática: a busca da perfeição por um jovem músico, aluno de um sádico.
Chazelle tirou boas lições daquele filme. Entre outras, a de que a perfeição é um item tremendamente sobrevalorizado (o que foi, aliás, reafirmado há dias por Nelson Freire).
Deixou escapar algumas lições dos musicais clássicos, a mais importante das quais é de que é necessário um subplot, de preferência cômico, para aliviar a história principal. Por não fazê-lo, "La La Land" termina incorporando momentos de forte perda de interesse (no miolo da trama, em particular), ao mesmo tempo em que a insistência no tema central (temos de levar adiante nossos sonhos blá-blá-blá) acaba por expor sua precariedade (ou velhice, no caso dá no mesmo).
Apesar desses pesares, os momentos de interesse, as invenções, os cortes bem achados de "La La Land" compensam amplamente seus problemas: Chazelle continua a ter o sucesso no centro de seus pensamentos. Agora, com mais largueza de vista, pensa no que se ganha e no que se perde quando realizamos nossos sonhos de sucesso.
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