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    CRÍTICA

    Documentário recorda sucesso do axé e faz refletir sobre preconceito

    MARCO AURÉLIO CANÔNICO
    DO RIO

    19/01/2017 02h00

    Nos últimos 30 anos, a mescla de ritmos baianos que se convencionou chamar "axé music" criou ídolos, movimentou milhões (de reais e de pessoas) e tornou-se crucial na indústria musical do país.

    Essa é a história contada em "Axé - Canto do Povo de Um Lugar", documentário de estreia do baiano Chico Kertész.

    A estrutura é convencional: narra a trajetória do gênero cronologicamente, alternando entrevistas e música.

    Ormuzd Alves - 5.jun.1992/Folhapress
    Show de Daniela Mercury no vão livre do Masp, em São Paulo
    Show de Daniela Mercury no vão livre do Masp, em São Paulo

    Estão presentes todos os ícones, de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Daniela Mercury –esta, profunda conhecedora da história da música baiana– aos indefectíveis Caetano Veloso e Gilberto Gil.

    Mais significativa, para quem gosta de axé, é a participação de figuras menos estelares, como Wesley Rangel, dono do estúdio por onde passaram todos os artistas do gênero, e o cantor Gerônimo.

    O problema é que Kertész pena para encaixar tanta gente (cerca de 20 entrevistados) e tanto tema em 107 minutos. Com isso, certos trechos ficam acelerados e confusos, especialmente no terço final.

    Não chega a estragar a obra, que vai além da mera apresentação musical ao discutir a comercialização do axé, mostrando a transformação dos blocos em negócio, com abadás, cordas e seguranças para atrair a elite branca.

    Igualmente importante é a crítica que artistas menos conhecidos –e negros, pobres–fazem à competitividade da cena musical, numa mistura de ganância empresarial e falta de apoio mútuo que deixou personagens cruciais esquecidos na pobreza.

    "Axé" é uma lembrança não só da magnitude do sucesso do gênero mas de sua importância na autoafirmação negra. O que, de resto, ajuda a entender parte do preconceito que o cercou.

    AXÉ - CANTO DO POVO DE UM LUGAR
    DIREÇÃO: CHICO KERTÉSZ
    PRODUÇÃO: BRASIL, 2016, 12 ANOS
    QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (19)

    Edição impressa

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