Nos últimos 30 anos, a mescla de ritmos baianos que se convencionou chamar "axé music" criou ídolos, movimentou milhões (de reais e de pessoas) e tornou-se crucial na indústria musical do país.
Essa é a história contada em "Axé - Canto do Povo de Um Lugar", documentário de estreia do baiano Chico Kertész.
A estrutura é convencional: narra a trajetória do gênero cronologicamente, alternando entrevistas e música.
Ormuzd Alves - 5.jun.1992/Folhapress | ||
Show de Daniela Mercury no vão livre do Masp, em São Paulo |
Estão presentes todos os ícones, de Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e Daniela Mercury –esta, profunda conhecedora da história da música baiana– aos indefectíveis Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Mais significativa, para quem gosta de axé, é a participação de figuras menos estelares, como Wesley Rangel, dono do estúdio por onde passaram todos os artistas do gênero, e o cantor Gerônimo.
O problema é que Kertész pena para encaixar tanta gente (cerca de 20 entrevistados) e tanto tema em 107 minutos. Com isso, certos trechos ficam acelerados e confusos, especialmente no terço final.
Não chega a estragar a obra, que vai além da mera apresentação musical ao discutir a comercialização do axé, mostrando a transformação dos blocos em negócio, com abadás, cordas e seguranças para atrair a elite branca.
Igualmente importante é a crítica que artistas menos conhecidos –e negros, pobres–fazem à competitividade da cena musical, numa mistura de ganância empresarial e falta de apoio mútuo que deixou personagens cruciais esquecidos na pobreza.
"Axé" é uma lembrança não só da magnitude do sucesso do gênero mas de sua importância na autoafirmação negra. O que, de resto, ajuda a entender parte do preconceito que o cercou.