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Thursday, 21-Nov-2024 13:03:06 -03Crítico literário Antonio Candido morre em São Paulo aos 98 anos
SÉRGIO RIZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA12/05/2017 10h03 - Atualizado às 12h07
Erramos: esse conteúdo foi alteradoO crítico literário, ensaísta, professor e sociólogo Antonio Candido morreu na madrugada desta sexta-feira (12), aos 98 anos, no hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Candido estava internado desde sábado, depois de ter uma "crise gástrica", diz Laura Escorel, neta que morava com ele havia quatro anos.
"Estamos em paz, ele esteve lúcido até o fim e não sofreu", diz.
O velório começou às 9h e vai até às 17h desta sexta (12), no hospital Albert Einstein do Morumbi. No sábado (13), o corpo será cremado em uma cerimônia só para familiares e amigos próximos. Ele deixou orientações para que suas cinzas sejam misturadas às de sua mulher, Gilda de Mello e Souza, morta em 2005. Depois, as cinzas do casal ficarão em um jardim.
TRAJETÓRIA SINGULAR
Em 1996, chamado a celebrar a memória do escritor e professor Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977) em um evento da Universidade de São Paulo (USP), Antonio Candido de Mello e Souza disse que o amigo era dessas pessoas que "Deus faz e quebra a forma, pelo conjunto de qualidades interessantes e originais". A frase poderia ricochetear no espelho, ajudando a definir também seu próprio autor.
Como crítico literário (sua forma preferida de se apresentar), professor universitário, conferencista e intelectual de posições políticas assumidas em público com destemor, autor de livros, ensaios e artigos para a imprensa, Antonio Candido percorreu uma trajetória singular que o transformou em referência de independência de pensamento e de integridade moral para diversas gerações de alunos, discípulos, leitores e admiradores.
Nascido no Rio de Janeiro, em 24 de julho de 1918, Candido se mudou aos três anos para Santa Rita de Cássia (MG). Aprendeu as matérias do antigo primário com a mãe, Clarisse Tolentino de Mello e Souza. Foi só aos 11 anos, quando passou a morar em Poços de Caldas (MG), que entrou na escola para fazer o antigo ginásio, concluído em São João da Boa Vista (SP). Veio para São Paulo em 1936 e, nos dois anos seguintes, fez o curso complementar do extinto Colégio Universitário —espécie de escola preparatória— da USP.
Em 1939, ingressou na Faculdade de Direito da USP (que viria a abandonar no quinto ano, antes da conclusão) como espécie de compensação exigida pelo pai, o médico Aristides Candido de Mello e Souza, para que fizesse, conforme seu desejo, o curso de Ciências Sociais na antiga Faculdade de Filosofia da mesma universidade (atual Faculdade de Filosofia,Letras e Ciências Humanas - FFLCH). Nessa unidade, assumiria em 1942 o cargo de professor assistente de sociologia.
Tinha início uma carreira universitária brilhante. Em 1945, com a tese "Introdução ao Método Crítico de Sílvio Romero", tornou-se livre-docente em Literatura Brasileira pela USP. Em 1954, recebeu o título de doutor em Ciências Sociais com a tese "Os Parceiros do Rio Bonito". E, em 1960, assumiu o cargo de professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na FFLCH. Aposentado da instituição em 1978, continuou a orientar dissertações e teses de pós-graduação.
Em 1958, Candido assumiu o cargo de professor de Teoria Literária na Faculdade de Filosofia de Assis, hoje pertencente à Universidade Estadual Paulista (Unesp), onde passou dois anos. De 1976 a 1978, coordenou o Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No exterior, lecionou na Universidade de Paris, de 1964 a 1966, e na Universidade Yale, em 1968.
A carreira de crítico literário na imprensa teve início em 1943, quando começou a escrever para a "Folha da Manhã", que deu origem à Folha de S.Paulo. Ainda nos anos 1940, foi crítico do "Diário de São Paulo". E, em 1956, fez o projeto do "Suplemento Literário" de "O Estado de S. Paulo", que ajudou a modernizar o jornalismo cultural brasileiro.
Candido foi também um dos fundadores da lendária revista cultural "Clima", que publicou apenas 16 números, entre 1941 e 1944, mas que revelou um grupo de intelectuais de atuação marcante no cenário cultural e universitário paulista: Salles Gomes, Décio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado, Ruy Coelho e Gilda de Moraes Rocha, com quem Candido se casou em 1943, quando ela adotou o nome Gilda de Mello e Souza. O casal teve três filhas: Ana Luisa, Laura e Marina. Gilda morreu em 2005.
A militância política de Candido começou ainda na juventude, como integrante da Frente de Resistência contra a ditadura do Estado Novo. Em 1942, ele participou da criação do Grupo Radical de Ação Popular. Três anos depois, ajudou a fundar a União Democrática Socialista. Logo em seguida, aderiu – ao lado de Sérgio Buarque de Holanda, um de seus grandes amigos – à Esquerda Democrática, que daria origem em 1947 ao Partido Socialista Brasileiro, pelo qual Candido foi candidato a deputado estadual em 1950. Teve pouco mais de 500 votos.
Em 1966, ao voltar da temporada em Paris, manifestou seu apoio ao MDB. Em 1977, assinou o Manifesto dos Intelectuais, que pedia o fim da censura. E, em 1980, participou da fundação do PT. "Confesso que por toda a minha vida, mesmo nos momentos mais agudos, nunca fui capaz de perder a preocupação com os fatores sociais e políticos, que obcecaram a minha geração como uma espécie de memento e quase de remorso", disse em entrevista à revista acadêmica "Trans-form-ação", em 1975. Antonio Candido reunia, como se vê, "um conjunto de qualidades interessantes e originais".
Candido deixa três filhas, Laura de Mello e Souza, Ana Luisa Escorel e Marina de Mello e Souza.
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